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pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

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A repre<strong>se</strong>ntação <strong>se</strong>ria, então, aquilo <strong>que</strong>, do objeto, vem <strong>se</strong> inscrever nos<br />

“sistemas mnêmicos”. [...] Ora, é sabido <strong>que</strong> Freud não concebe a<br />

memória como um puro e simples receptáculo de imagens, <strong>se</strong>gundo uma<br />

concepção estritamente empírica, mas fala de sistemas mnêmicos,<br />

desdobra a lembrança em diferentes séries associativas e designa,<br />

finalmente, sob o nome de traço mnêmico [...] (LAPLANCHE;<br />

PONTALIS, 2001, apud BORGES, 2010, p.55).<br />

90<br />

O trajeto <strong>que</strong> Freud empreende vai desde uma concepção na qual o psiquismo era<br />

marcado <strong>pelas</strong> suas ideias enquanto médico, falando sobre funções neuronais, até a noção<br />

do psiquismo enquanto sistema de linguagem, <strong>se</strong>ndo por es<strong>se</strong> trajeto <strong>que</strong> Lacan <strong>se</strong>guirá<br />

chegando ao aforismo do inconsciente estruturado como uma linguagem. Lacan leu<br />

muitíssimo bem Freud, destacando <strong>que</strong>, mesmo nos primeiros textos, este já não<br />

considerava <strong>que</strong> os elementos do sonho <strong>se</strong> tratas<strong>se</strong>m de uma relação direta do sujeito com<br />

os objetos do mundo, e sim de uma relação entre repre<strong>se</strong>ntantes, ou <strong>se</strong>ja, entre<br />

significantes, o <strong>que</strong> indicaria o caminho de Lacan para falar acerca <strong>da</strong> ordem simbólica.<br />

Em O bloco mágico (1925), Freud destacará o aparelho mnêmico como um bloco<br />

de notas no qual é possível fazer uma nova escrita <strong>se</strong>m <strong>que</strong> com isso o <strong>que</strong> estava escrito<br />

anteriormente <strong>se</strong> apague, assim é a memória do sujeito, “é fun<strong>da</strong>dora, ela é o próprio<br />

psiquismo” (BORGES, 2010, p.62). Tal bloco exerce a mesma capaci<strong>da</strong>de do aparelho<br />

mental, isto é, está <strong>se</strong>mpre pronto a registrar fatos novos <strong>se</strong>m <strong>que</strong> para isso <strong>se</strong>ja preciso <strong>se</strong><br />

desfazer <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> escrita ou ter <strong>que</strong> apagar o registro anterior.<br />

Ora, há algum tempo atrás surgiu no mercado, sob o nome de “Bloco<br />

Mágico”, um pe<strong>que</strong>no invento <strong>que</strong> promete realizar mais do <strong>que</strong> a folha<br />

de papel ou a lousa. [...] sua construção apre<strong>se</strong>nta uma concordância<br />

notável com a minha estrutura hipotética de nosso aparelho perceptual e<br />

<strong>que</strong>, de fato, pode fornecer tanto uma superfície receptiva <strong>se</strong>mpre pronta,<br />

como traços permanentes <strong>da</strong>s notas feitas sobre ela. (FREUD, 1925/1996,<br />

p.256)<br />

O bloco mágico concretiza a noção já esboça<strong>da</strong> no Projeto... acerca <strong>da</strong> metáfora <strong>da</strong><br />

escrita para falar do funcionamento do psiquismo. Como afirma Borges: “[Freud] toma a<br />

escrita como metáfora” (2010, p.62-63). Com a noção do traço mnêmico surge a ideia de<br />

escritura, ou <strong>se</strong>ja, do psiquismo funcionar como um escrito onde são impressos e onde<br />

podem <strong>se</strong>r lidos textos. Freud (1896/1996, p.281), numa carta endereça<strong>da</strong> a Fliess, afirma:<br />

Como você sabe, estou trabalhando com a hipóte<strong>se</strong> de <strong>que</strong> nosso<br />

mecanismo psíquico tenha-<strong>se</strong> formado por um processo de estratificação:<br />

o material pre<strong>se</strong>nte em forma de traços <strong>da</strong> memória estaria sujeito, de

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