pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
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Miller afirma <strong>que</strong> ler o sintoma vai na contra mão do <strong>se</strong>ntido, isto <strong>que</strong>r dizer <strong>que</strong><br />
não <strong>se</strong> deve inflar o sintoma com interpretações, só produziria mais e mais significações,<br />
numa metonímia infinita. Ler o sintoma re<strong>que</strong>r <strong>se</strong> desfazer do <strong>se</strong>ntido numa aposta <strong>que</strong> <strong>da</strong>í<br />
possa advir um sinthoma.<br />
Lacan substitui o aparato de interpretar de Freud - <strong>que</strong> Lacan mesmo<br />
havia formalizado, havia esclarecido, <strong>que</strong>r dizer, o ternário edípico - por<br />
um ternário <strong>que</strong> não produz <strong>se</strong>ntido, o do Real, do Simbólico e do<br />
Imaginário. Mas, ao deslocar a interpretação do quadro edípico em<br />
direção ao quadro borromeano, é o funcionamento mesmo <strong>da</strong><br />
interpretação <strong>que</strong> mu<strong>da</strong> e passa <strong>da</strong> escuta do <strong>se</strong>ntido à leitura do fora de<br />
<strong>se</strong>ntido. (MILLER, 2011).<br />
O saber ler <strong>se</strong> refere à escritura, à materiali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> palavra, não ao <strong>se</strong>u <strong>se</strong>ntido.<br />
Consiste na busca pelo encontro primeiro do significante em sua materiali<strong>da</strong>de com o<br />
corpo do sujeito, produzindo trauma <strong>que</strong> lança o falante num a ver <strong>se</strong> com o gozo, com o<br />
Real. No encontro com o Real ca<strong>da</strong> um terá <strong>que</strong> fazer uma invenção <strong>que</strong> afaste de si es<strong>se</strong><br />
gozo primeiro e traumático.<br />
Nessa perspectiva, do fora do <strong>se</strong>ntido, encontram-<strong>se</strong> as criações na <strong>psico<strong>se</strong></strong>. O<br />
trabalho de criação em si não tem relação com a interpretação. O próprio trabalho concreto<br />
com objetos, tais como argila, papel, lápis, tinta e outros produz um apaziguamento no<br />
sujeito por <strong>se</strong> tratar de uma operação <strong>que</strong> condensa, veicula e dá limite ao gozo. De outro<br />
modo, a escrita, enquanto criação trazi<strong>da</strong> aqui pode funcionar como suplência quando é<br />
capaz de cifrar a metonímia infinita do gozo. A escrita quando não <strong>se</strong> presta à decifração<br />
significante, é letra <strong>que</strong> cifra.<br />
Mesmo Lacan tendo apostado no <strong>se</strong>ntido, na fala como o <strong>que</strong> transporta<br />
significações, mais pre<strong>se</strong>nte na primeira clínica, não deixa de avançar chegando à escrita.<br />
Parece contraditório, já <strong>que</strong> é na fala <strong>que</strong> a psicanáli<strong>se</strong>, desde Freud, pauta-<strong>se</strong>. To<strong>da</strong>via,<br />
Lacan dirá mais claramente em <strong>se</strong>u Seminário 25 – Momento de concluir (1977) 23 , <strong>que</strong> à<br />
psicanáli<strong>se</strong> importa o dizer não só a fala. E o dizer é <strong>da</strong> ordem <strong>da</strong> escrita. “Trabalho no<br />
impossível de dizer. Dizer é outra coisa <strong>que</strong> falar [...] isto é, participa <strong>da</strong> escritura [...] 24<br />
(LACAN, 1977, p.08).<br />
O trabalho <strong>que</strong> alguns sujeitos psicóticos de<strong>se</strong>nvolvem, <strong>se</strong>ja nos hospitais<br />
psiquiátricos, nas oficinas ditas terapêuticas, <strong>se</strong>ja fora, circulando na socie<strong>da</strong>de em forma<br />
23 Seminário inédito.<br />
24 “Trabajo en lo imposible de decir. Decir es otra cosa <strong>que</strong> hablar. [...] es decir participa de la escritura<br />
[...]”(LACAN, 1977).