pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
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Es<strong>se</strong> significante está na origem e, portanto, estabelece uma lei, a lei simbólica,<br />
instituí<strong>da</strong> desde Freud pelo <strong>se</strong>u Complexo de Édipo. De antemão, é preciso dizer, Lacan<br />
retoma o Édipo em Freud, indo além. Se o Édipo é um mito forjado por Freud para <strong>da</strong>r<br />
conta <strong>da</strong> relação do sujeito com <strong>se</strong>u inconsciente, com <strong>se</strong>u de<strong>se</strong>jo, Lacan fará disso uma<br />
estrutura. Já <strong>que</strong> Lacan está no campo do “inconsciente estruturado como uma linguagem”<br />
(1964/1979, p.193), ou <strong>se</strong>ja, no campo do significante, o pai é uma função simbólica. “A<br />
referência ao Édipo reinstaura a clínica <strong>da</strong> estrutura do sujeito equivalente à estrutura <strong>da</strong><br />
linguagem, na medi<strong>da</strong> em <strong>que</strong> o Édipo é a armadura significante mínima <strong>que</strong> condiciona a<br />
entra<strong>da</strong> do sujeito no mundo simbólico.” (QUINET, 2009, p. 07). Aqui <strong>se</strong> tem, portanto,<br />
<strong>que</strong> a entra<strong>da</strong> no simbólico vai depender <strong>se</strong> houve Complexo de Édipo.<br />
Lacan trata do Complexo de Édipo no <strong>se</strong>minário As formações do inconsciente<br />
(1957-58), dividindo- o em três tempos.<br />
Num primeiro tempo, a criança tenta satisfazer o de<strong>se</strong>jo de sua mãe, tenta <strong>se</strong>r para<br />
esta aquilo <strong>que</strong> lhe falta, ou <strong>se</strong>ja, o falo 7 . O falo é o objeto de de<strong>se</strong>jo <strong>da</strong> mãe. É um tempo<br />
onde a criança <strong>se</strong> encontra identifica<strong>da</strong> ao falo. Consiste, ain<strong>da</strong>, num tempo em <strong>que</strong> a mãe<br />
é para a criança o Outro absoluto e onipotente. O Outro materno, portanto, é lugar de puro<br />
gozo 8 e saber sobre o infans. Aqui não há a barra <strong>da</strong> lei paterna <strong>que</strong> <strong>se</strong>para a mãe <strong>da</strong><br />
criança, é o tempo <strong>da</strong> mãe caprichosa, devoradora.<br />
Nes<strong>se</strong> tempo, o bebê enfrenta uma luta feroz entre <strong>se</strong>r ou não <strong>se</strong>r o falo para a mãe:<br />
“to be or not to be o objeto do de<strong>se</strong>jo <strong>da</strong> mãe” (LACAN, 1957-58/1999, p.197). Questão<br />
essa imposta para todo <strong>se</strong>r humano. Nessa fa<strong>se</strong>, o bebê só chora, dorme e mama, mas já aí<br />
pode <strong>se</strong> colocar enquanto sujeito, quando recusa o peito ou a mamadeira oferta<strong>da</strong> pela mãe.<br />
Algo pode escapar a essa dialética mãe-bebê, tanto do lado <strong>da</strong> criança como do lado <strong>da</strong><br />
mãe. Esta pode de<strong>se</strong>jar para além do filho, algo <strong>que</strong> a criança não pode <strong>da</strong>r e <strong>que</strong>, portanto,<br />
ela não completa. Essa mãe, por exemplo, de<strong>se</strong>ja o pai <strong>da</strong> criança, e isso <strong>se</strong> encontra para<br />
além <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des do infans. Isso <strong>que</strong> adentra na relação mãe-bebê é um terceiro, um<br />
terceiro elemento <strong>que</strong> vem interromper esta relação, causando uma <strong>se</strong>paração entre a<br />
criança e o Outro materno. Es<strong>se</strong> terceiro consiste no Pai.<br />
7 Elemento central do Édipo, o falo é um símbolo <strong>que</strong> não tem correspondente exato, significante <strong>da</strong> falta <strong>que</strong><br />
põe os sujeitos no circuito do de<strong>se</strong>jo. (ROUDINESCO; PLON, 1998).<br />
8 Gozo é um termo <strong>que</strong> permeia to<strong>da</strong> a obra de Lacan indo do gozo relacionado ao prazer, ou <strong>se</strong>ja, o gozo<br />
fálico <strong>que</strong> o sujeito pode <strong>se</strong> utilizar, para um gozo fora do <strong>se</strong>ntido e por isso impossível de <strong>se</strong> ter acesso.<br />
(ROUDINESCO; PLON, 1998).