pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
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Antes do atentado, Aimée já havia sido interna<strong>da</strong>, apre<strong>se</strong>ntando delírio de<br />
per<strong>se</strong>guição em relação a ela e a <strong>se</strong>u filho, dizendo <strong>que</strong> <strong>que</strong>riam matá-lo. Após sair <strong>da</strong><br />
internação, decide <strong>se</strong> tornar romancista. Acredita <strong>que</strong> <strong>se</strong> tornaria uma grandiosa escritora e<br />
<strong>que</strong> sua vi<strong>da</strong> é motivo para <strong>se</strong>rem publicados livros, entrevistas e peças teatrais. No<br />
entanto, não con<strong>se</strong>gue <strong>que</strong> <strong>se</strong> publi<strong>que</strong> na<strong>da</strong> do <strong>que</strong> <strong>escreve</strong>. O delírio de per<strong>se</strong>guição <strong>que</strong><br />
arriscava <strong>se</strong> formar e a escrita de <strong>se</strong>us romances <strong>se</strong> configuravam como tentativas de cura.<br />
O delírio, no caso de Aimée, não consistia numa organização, era difuso. Somado a isto, o<br />
Outro não acusa recebimento de sua escrita. O esvaziamento de gozo não opera em Aimée<br />
nem pela via do delírio nem pela <strong>da</strong> escrita, deixando lugar para a passagem ao ato.<br />
(FREIRE, 2001).<br />
Apesar de a passagem ao ato ter tido um efeito de estabilização, não é uma saí<strong>da</strong><br />
socialmente aceitável, podendo culminar na morte do sujeito psicótico ou de outros a <strong>que</strong>m<br />
o delírio esteja relacionado. É válido então falar de outras soluções.<br />
Num outro momento do ensino de Lacan, tem-<strong>se</strong> a metáfora delirante. Com ba<strong>se</strong> no<br />
caso do presidente Schreber, Lacan, a partir de Freud, de<strong>se</strong>nvolve sua teoria acerca <strong>da</strong><br />
metáfora delirante. Freud já dizia <strong>que</strong> o delírio consiste numa tentativa de cura por parte do<br />
sujeito quando ocorre o de<strong>se</strong>ncadeamento <strong>da</strong> <strong>psico<strong>se</strong></strong> (FREUD, 1911). Após o surto, há um<br />
desmoronamento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de do sujeito e uma emergência <strong>se</strong> coloca na reconstrução de<br />
<strong>se</strong>u mundo.<br />
[...] antes do surto, a reali<strong>da</strong>de é sustenta<strong>da</strong> por bengalas imaginárias,<br />
quando do surto, há uma dissolução imaginária e uma catástrofe subjetiva<br />
equivalente ao fim do mundo; e, finalmente, há uma recomposição <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong>de com a reconstrução do mundo a partir do trabalho do delírio.<br />
(QUINET, 2009, p.54).<br />
Lacan cria o conceito de metáfora delirante a partir des<strong>se</strong> outro conceito, o <strong>da</strong><br />
metáfora paterna, já comentado. O delírio é tratado por Lacan como solução psicótica<br />
enquanto metáfora delirante <strong>que</strong> faz suplência ao Nome-do-Pai foracluído.<br />
Schreber é um caso de <strong>psico<strong>se</strong></strong> no qual é possível ob<strong>se</strong>rvar o trabalho do delírio e o<br />
efeito de estabilização <strong>que</strong> pôde operar. Freud estu<strong>da</strong> o caso <strong>se</strong> detendo no início e no<br />
desfecho do delírio. O início consiste na imposição de alguma ideia incompatível com a<br />
reali<strong>da</strong>de, a saber, manifestações de de<strong>se</strong>jos homos<strong>se</strong>xuais. Surge em <strong>se</strong>gui<strong>da</strong> o<br />
pensamento de <strong>se</strong>r copulado por Deus. Mas, ora, como <strong>se</strong>r copulado <strong>se</strong>ndo ele homem? É<br />
aí <strong>que</strong> o delírio vai <strong>se</strong> organizando. Como homem não é aceitável, mas Deus como