pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Ao discorrer acerca <strong>da</strong>s duas vertentes do inconsciente, interpretável e real,<br />
pretende-<strong>se</strong> abor<strong>da</strong>r língua e alíngua no <strong>que</strong> ambas dialogam acerca do conceito de Real,<br />
utilizando para isso as ideias de Milner (1987) e de Maliska (2010), ambos fazendo uma<br />
articulação entre a psicanáli<strong>se</strong> e a linguística saussuriana. Para isso é preciso dizer de início<br />
<strong>que</strong> <strong>se</strong>mpre <strong>que</strong> <strong>se</strong> referir à língua <strong>se</strong>rá do conceito formulado pelo linguista Ferdinand de<br />
Saussure. Enquanto alíngua é criação lacaniana.<br />
A língua é o objeto de estudo ao qual a linguística saussuriana resolve <strong>se</strong> colocar<br />
para tratar <strong>da</strong>s <strong>que</strong>stões relaciona<strong>da</strong>s à linguagem, diante <strong>da</strong> multiplici<strong>da</strong>de desta última:<br />
“Toma<strong>da</strong> em <strong>se</strong>u todo, a linguagem é multiforme e heteróclita; [...] não <strong>se</strong> deixa classificar<br />
em nenhuma categoria dos fatos humanos, pois não <strong>se</strong> sabe como inferir sua uni<strong>da</strong>de.”<br />
(SAUSSURE, 1916/2006, p.17). A linguagem na teoria saussuriana não pertence aos<br />
domínios do homem, no entanto, pode-<strong>se</strong> estudá-la por meio <strong>da</strong> fala e <strong>da</strong> língua <strong>que</strong> são as<br />
duas partes <strong>que</strong> <strong>se</strong> lhe compõe, como já mencionado anteriormente.<br />
Enquanto a fala é considera<strong>da</strong> um ato individual e consciente do sujeito falante, <strong>que</strong><br />
tem a liber<strong>da</strong>de de escolher e pronunciar as palavras <strong>que</strong> de<strong>se</strong>ja, a língua, por sua vez, é um<br />
sistema em pleno movimento, sobre o qual os indivíduos não possuem domínio. A língua é<br />
adquiri<strong>da</strong> a partir de uma convenção social adota<strong>da</strong> pelos falantes e a ela <strong>se</strong> atribui o<br />
primeiro lugar na facul<strong>da</strong>de <strong>da</strong> linguagem, é por meio dela <strong>que</strong> a linguagem <strong>se</strong> dá a<br />
conhecer.<br />
Para atribuir à língua o primeiro lugar no estudo <strong>da</strong> linguagem, pode-<strong>se</strong>,<br />
enfim, fazer valer o argumento de <strong>que</strong> a facul<strong>da</strong>de – natural ou não – de<br />
articular palavras não <strong>se</strong> exerce <strong>se</strong>não com a aju<strong>da</strong> de instrumento criado<br />
e fornecido pela coletivi<strong>da</strong>de; não é, então, ilusório dizer <strong>que</strong> é a língua<br />
<strong>que</strong> faz a uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> linguagem. (SAUSSURE, 1916/2006, p.18).<br />
60<br />
A língua é “um produto social <strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de <strong>da</strong> linguagem e um conjunto de<br />
convenções necessárias, adota<strong>da</strong>s pelo corpo social para permitir o exercício dessa<br />
facul<strong>da</strong>de nos indivíduos.” (SAUSSURE, 1916/2006, p. 17). A língua e <strong>se</strong>us movimentos,<br />
portanto, são o fun<strong>da</strong>mento de todo estudo <strong>da</strong> linguística saussuriana.<br />
A psicanáli<strong>se</strong> também trata <strong>da</strong> língua, uma língua própria <strong>que</strong> não é a mesma do<br />
linguista saussuriano. Trata-<strong>se</strong> <strong>da</strong> língua do inconsciente, a qual Lacan nomeara de<br />
lalangue, <strong>que</strong> pode <strong>se</strong>r traduzi<strong>da</strong> por alíngua ou pode ain<strong>da</strong> <strong>se</strong>r dita lalíngua. A escolha por<br />
dizer alíngua consiste na própria confusão de sua pronuncia ao falar a língua e alíngua,<br />
<strong>se</strong>ndo apenas pela escrita <strong>que</strong> <strong>se</strong> poderá verificar à qual <strong>se</strong> esta referindo.