30.12.2013 Views

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

105<br />

3.3 DO PARTICULAR DO SUJEITO: BREVES FRAGMENTOS DA CLÍNICA<br />

Abor<strong>da</strong>r a <strong>psico<strong>se</strong></strong> não constitui tarefa fácil, há uma vasta conceituação desde<br />

Freud, passando por Lacan e continuando a avançar na teoria e na clínica. Freud, com o<br />

caso Schreber, abriu as portas para <strong>se</strong> pensar a <strong>psico<strong>se</strong></strong>, dentre outras perspectivas, pela via<br />

<strong>da</strong>s alucinações e do delírio. Lacan também abordou a <strong>psico<strong>se</strong></strong> por meio de casos. Como o<br />

caso Aimée, o caso do presidente Schreber, dentre outros, culminando com Joyce como<br />

paradigma <strong>da</strong> <strong>psico<strong>se</strong></strong>. Lacan, partindo do delírio como tentativa de cura, chega a falar de<br />

soluções na <strong>psico<strong>se</strong></strong>, não mais uma única forma, mas uma pluralização <strong>da</strong>s saí<strong>da</strong>s<br />

encontra<strong>da</strong>s pelos sujeitos.<br />

Tanto Freud como Lacan destacaram pontos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong> <strong>psico<strong>se</strong></strong>,<br />

<strong>se</strong>m com isso universalizar um tratamento padrão. Os estudos de casos revelam <strong>que</strong> na<br />

clínica <strong>da</strong> <strong>psico<strong>se</strong></strong> <strong>se</strong> avança através do particular de ca<strong>da</strong> caso por meio de uma<br />

investigação: O <strong>que</strong> culminou no de<strong>se</strong>ncadeamento? Qual a história pregressa do sujeito?<br />

Como <strong>se</strong> sustentava na vi<strong>da</strong> antes do de<strong>se</strong>ncadeamento? E quais as soluções encontra<strong>da</strong>s<br />

para li<strong>da</strong>r com o Real <strong>que</strong> <strong>se</strong> desvelou sob o sujeito?<br />

Na investigação acerca <strong>da</strong> <strong>psico<strong>se</strong></strong> <strong>se</strong> leva em conta a singulari<strong>da</strong>de dos fenômenos<br />

elementares do delírio, do trato com a linguagem, <strong>da</strong> (não)relação com o outro e <strong>da</strong>s curas<br />

possíveis.<br />

Guerra (2007), em sua te<strong>se</strong>, defende a ideia de <strong>que</strong> qual<strong>que</strong>r criação artística ou<br />

artesanal pode funcionar como suplência quando opera como letra <strong>que</strong> cifra o gozo. Ou<br />

<strong>se</strong>ja, a criação <strong>que</strong> <strong>se</strong> faz a partir de objetos concretos – papel, lápis, tinta, agulha – pode<br />

ter efeito de estabilização para o sujeito psicótico. Importa menos o suporte material usado<br />

do <strong>que</strong> o efeito de artífice <strong>que</strong> um <strong>da</strong>do produto possa ter para o sujeito na condição de<br />

condensador de gozo. Trata-<strong>se</strong> do saber-fazer com o <strong>que</strong> é do gozo. “Mais do <strong>que</strong> a criação<br />

em si, é <strong>se</strong>u efeito de escrita <strong>que</strong> pode funcionar como elemento na suplência psicótica.<br />

Nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido, a criação <strong>se</strong>ria também uma forma de escrita.” (GUERRA, 2007, p. vi).<br />

Partindo des<strong>se</strong> pressuposto de <strong>que</strong> algo <strong>da</strong> ordem de uma criação –artefato, pintura,<br />

texto – podem vir a moderar o gozo pelo <strong>se</strong>u efeito de escrita, pretende-<strong>se</strong> abor<strong>da</strong>r nes<strong>se</strong><br />

ponto <strong>da</strong> dis<strong>se</strong>rtação alguns fragmentos <strong>da</strong> clínica nos quais a escrita (em <strong>se</strong>us variados<br />

tipos e aspectos) <strong>se</strong> mostrou em <strong>se</strong>u trato com o gozo. Ain<strong>da</strong> com Guerra (2007, p.19):<br />

“[...] o trabalho do psicótico sobre uma materiali<strong>da</strong>de concreta como <strong>se</strong>rvindo de suporte

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!