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570 O comunitarismo como mecanismo de potencialização da participação...<br />
atual parece apresentar cada vez menos condições de fornecer os mecanismos para<br />
desfrutar uma vida feliz. Por isso, afirma-se que “comunidade é nos dias de hoje outro<br />
nome do paraíso perdido, mas a que esperamos ansiosamente retornar, e assim<br />
buscamos febrilmente os caminhos que podem levar-nos até lá”. 18<br />
Nesse viés, desponta o modelo de “comunidade cívica” idealizada por Putnam,<br />
que tem por fundamento a valorização da corresponsabilidade, da colaboração e do<br />
altruísmo, enquanto valores necessários e aptos para estabelecer redes integrativas<br />
entre os cidadãos. 19 Na comunidade cívica, a solidariedade, a reciprocidade e os<br />
laços comunitários imperam sobre o capitalismo, o corporativismo e os jogos de<br />
interesses políticos. Para Putnam, uma comunidade cívica se caracteriza, em primeiro<br />
plano, pela participação dos indivíduos nos negócios públicos, tendo em vista que<br />
“os cidadãos buscam o que Tocqueville chamava de ‘interesse próprio corretamente<br />
entendido’, isto é, o interesse próprio definido no contexto das necessidades públicas<br />
gerais, o interesse próprio que é sensível aos interesses dos outros”. 20<br />
A comunidade cívica parte do pressuposto da cidadania, enquanto exercício<br />
igualitário de direitos e deveres pelos indivíduos. O associativismo que move as<br />
comunidades cívicas torna as relações horizontais edificadas na reciprocidade e na<br />
cooperação, em detrimento de relações verticais consubstanciadas em autoritarismo<br />
e dependência. Uma comunidade será mais cívica e mais política no momento em que<br />
se aproximar do ideal de igualdade política e propiciar aos indivíduos a participação<br />
no governo através de regras de reciprocidade. Logo, as lideranças comunitárias<br />
devem ser responsáveis pelos seus concidadãos. 21<br />
Para ser possível a viabilização de verdadeiras comunidades cívicas é preciso<br />
que, além de capital humano, esteja presente também o capital social, ao pressupor<br />
relações mais estreitas entre os cidadãos, voltadas à solidariedade e a objetivos<br />
comuns. Ao se instituir vínculos recíprocos com a família, com os amigos e com os<br />
membros da comunidade, atribui-se vida ao capital social e ao princípio básico da<br />
boa sociedade, o que pode ser refletido através do amor, da lealdade e do cuidado<br />
com os demais. O dever e a prioridade de tratar as pessoas como fim requer muito<br />
mais do que a mera igualdade de oportunidades, pois se pretende alcançar um<br />
mínimo básico satisfatório para todos. 22<br />
Com efeito, é preciso ter em mente que uma comunidade cívica não deve<br />
ser concebida como um lugar de compreensão mútua, livre de problemas, em<br />
que as discussões são amigáveis e pacíficas e os interesses sempre voltados em<br />
18<br />
BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge<br />
Zahar, 2003, p. 9.<br />
19<br />
PUTNAM, Robert D. Comunidade e Democracia: a experiência da Itália moderna. 3. ed. Rio de<br />
Janeiro: FGV, 2002, p. 100.<br />
20<br />
Ibid., p. 101-102.<br />
21<br />
Ibid., p. 102.<br />
22<br />
ETZIONI, Amitai. La tercera via. Traducción de José Antonio Ruiz San Román. Madrid: Trotta, 2001,<br />
p. 15-16.