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As políticas públicas no constitucionalismo contemporâneo<br />

471<br />

a solução de casos concretos da práxis jurídica, ainda que sejam diretamente<br />

subsumíveis ao explícito texto legal, em uma solução principiológica, dispensando<br />

a categorização jurídica dos problemas envolvidos. Tal método de solução é distinto<br />

– se não oposto – ao qual nos propusemos, qual seja a utilização de uma tecnologia<br />

que, não descartando o emprego fundamentado dos princípios jurídicos, se baseia<br />

em uma fundada e secular tradição doutrinária. Em nossa maneira de ver, tão somente<br />

esta última cumpre aquela função estabilizadora 13 , a qual garante segurança jurídica à<br />

medida que as decisões concernentes a determinada categoria obedecerão aos seus<br />

limites conceituais – delimitados pela lei ou pela tradição doutrinária –, interpretandoos,<br />

nos demais casos, da mesma maneira 14 .<br />

Um pensamento dogmático, nesse sentido adotado, enseja a possibilidade de<br />

universalização (Universalisierbarkeitsprinzip 15 ) das decisões concernentes à mesma<br />

categoria jurídica (conectada, pois, com um princípio de justiça 16 ), o que se nos<br />

antolha indissociável da segurança jurídica caracterizadora do Estado Democrático<br />

de Direito. Para perfilhar essa linha de raciocínio dogmático, pois, precisamos assentar<br />

algumas premissas básicas do Direito das Sucessões.<br />

O Direito das Sucessões pressupõe, ainda que de forma primitiva, uma ordem<br />

capitalista fundada na propriedade privada 17 , ao mesmo tempo em que desempenha<br />

13<br />

A expressão é de Robert Alexy, ao dissertar sobre as funções da Dogmática. Vide ALEXY, Robert.<br />

Theorie der juristischen Argumentation : die Theorie des rationalen Diskurses als Theorie der<br />

juristischen Begründung. 3. Aufl. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1996, p. 326: “Die stabilisierende<br />

Funktion wird dadurch erfüllt, daß mit Hilfe dogmatischer Sätze bestimmte Lösungen praktischer<br />

Fragen festgehalten und damit reproduzierbar gemacht werden. Dies ist möglich, weil die Dogmatik<br />

institutionell betrieben wird.Hierdurch können bestimmte Entscheidungsweisen über lange<br />

Zeiträume fixiert werden. Letzteres ist angesichts des weiten Bereichs der diskursiven Möglichkeiten<br />

von erheblicher Bedeutung. Würde man jeweils neu diskutieren, bestünde die Möglichkeit, daß man<br />

– ohne daß gegen Regeln des juristischen und des allgemeinen praktischen Diskurses verstoßen<br />

wird – jeweils zu anderen Ergibnissen gelangt. Dies widerspräche dem Universalisierbarkeitsprinzip<br />

und damit einem elementaren Aspekt des Gerechtigkeitsprinzips“.<br />

14<br />

Assim as sintéticas e precisas palavras de LARENZ, Karl. Methodenlehre der Rechtswissenschaft.<br />

3. Aufl. Berlin: Springer, 1995, p. 135: “In die Aufgabe der Auslegung teilen sich die Rechtsprechung<br />

und die Jurisprudenz in der Weise, daß dieser der Rechtsprechung gleichsam vorarbeitet, indem sie<br />

Auslegungsprobleme und Wege zu ihrer Lösung aufzeigt, jene aber die Ergebnisse in der Konfrontation<br />

mit der Problematik des einzelnen Falles auf die Probe stellt und damit die Jurisprudenz immer<br />

wieder zu Überprüfung nötigt. Obgleich aber der Richter durch den von ihm zu entscheidenden<br />

Fall dazu veranlaßt wird, einen bestimmten Ausdruck oder einen bestimmten Rechtssatz über das<br />

bisherige Maß hinaus weiter auszulegen, darf er ihn doch nicht nur gerade im Hinblick auf diesen<br />

einen Fall auslegen, sondern nur so, daß seine Auslegung auch für alle anderen gleichartigen Fälle<br />

gleich zu behandeln, wie auch der vom Gesetz erstretben Rechtissicherheit zuwider laufen, wenn<br />

die Gerichte die gleiche Bestimmung in gleichartigen Fälle bald so, bald anders auslegen würden“.<br />

15<br />

LUHMANN, Niklas. Rechtssystem und Rechtsdogmatik. Stuttgart/Berlin/Köln/Mainz: Kohlhammer,<br />

1974, p. 37 et seq.<br />

16<br />

ALEXY, Robert. Theorie der juristischen Argumentation : die Theorie des rationalen Diskurses als<br />

Theorie der juristischen Begründung. 3. Aufl. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1996, p. 327.<br />

17<br />

Seria um considerável e improdutivo dispêndio de energia se as unidades econômicas, nas quais a<br />

própria sociedade se organiza, desaparecessem com os homens que as sustentam e tivessem de ser<br />

continuamente recriadas por novos homens. Em toda sociedade, pois, deve haver uma regulação<br />

jurídica da nomeação de um novo proprietário de uma unidade econômica em lugar do falecido,<br />

de modo que toda sociedade necessita de uma ordenação sucessória (Sukzessionsordnung). Cf.<br />

RADBRUCH, Gustav. Rechtsphilosophie. 5te Aufl. Stuttgart: K. F. Koehler, 1956, p. 257, n.º 21.

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