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Avaliação de Impacto do Efeito Conjugado de programas de ...

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Avaliação <strong>de</strong> <strong>Impacto</strong> <strong>do</strong> <strong>Efeito</strong> Conjuga<strong>do</strong> <strong>de</strong> Programas <strong>de</strong> Transferência <strong>de</strong><br />

Renda e Complementares na Região Metropolitana <strong>de</strong> São Paulo<br />

O processo <strong>de</strong> seleção, como já foi dito, insistiu na informação <strong>de</strong> que aceitar ou<br />

recusar o convite <strong>de</strong> participação nos grupos focais não teria nenhuma influência<br />

na continuida<strong>de</strong> ou na permanência nos <strong>programas</strong> <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> renda<br />

(ou na sua inclusão, no caso <strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong> controle). Usou-se o argumento <strong>de</strong><br />

que a participação seria importante para aprimorar os <strong>programas</strong> e que a participação<br />

das inscritas po<strong>de</strong>ria ajudar outras pessoas.<br />

Apesar disso, a resposta mais comum, <strong>de</strong>ntre as pessoas que aceitaram o convite<br />

foi: “Nenhuma influência? Sei ... mas é melhor ir, né?”<br />

Ainda que a equipe – das recruta<strong>do</strong>ras às mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>ras – tenha procura<strong>do</strong> agir<br />

da forma mais isenta possível, é inegável que essas pessoas representavam, na<br />

visão <strong>do</strong>s participantes, o Esta<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> os participantes se manifestam, dirigem-se<br />

ao governo. Quan<strong>do</strong> reclamam, reclamam ao governo. Quan<strong>do</strong> sugerem,<br />

sugerem ao governo.<br />

Depois <strong>de</strong> forma<strong>do</strong>s os grupos focais, voltou-se a ligar para algumas mulheres<br />

que haviam confirma<strong>do</strong> a presença, mas que não haviam compareci<strong>do</strong>. Não foi<br />

um procedimento universalmente a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>, mas tentou-se enten<strong>de</strong>r e aprimorar<br />

o processo <strong>de</strong> convite. Todas as pessoas ausentes, apesar <strong>de</strong> confirmadas, tiveram<br />

problemas efetivos que impossibilitaram sua presença.<br />

Houve casos <strong>de</strong> mulheres que telefonaram para a empresa justifican<strong>do</strong> e se <strong>de</strong>sculpan<strong>do</strong><br />

pela ausência e, muitas vezes, queren<strong>do</strong> saber como havia si<strong>do</strong> o grupo<br />

focal e quais os temas trata<strong>do</strong>s, inclusive sobre os problemas vivi<strong>do</strong>s por elas.<br />

Essas informações não foram gravadas, nem transcritas, nem analisadas, mas<br />

certamente influíram nas conclusões <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

3.2.8. Análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa<br />

148 149<br />

A meto<strong>do</strong>logia usada na análise <strong>do</strong>s grupos focais foi baseada no referencial teórico-meto<strong>do</strong>lógico<br />

da Psicologia Social Discursiva, com ênfase na análise das<br />

práticas discursivas (Potter; Wetherell, 1987; Spink, 1996; 1999; Potter; Edwards,<br />

2001).<br />

A Psicologia Social Discursiva é a aplicação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias da análise <strong>do</strong> discurso em<br />

tópicos <strong>de</strong> interesse em Psicologia Social. Desenvolve uma forma particular <strong>de</strong><br />

análise originalmente elaborada por Potter e Wetherell (1987). A Psicologia Social<br />

Discursiva consi<strong>de</strong>ra o mo<strong>do</strong> como os textos e as falas são utiliza<strong>do</strong>s em<br />

sequências <strong>de</strong> interação, orientadas para ambientes institucionais e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s,<br />

e postas juntas retoricamente 18 (Figueire<strong>do</strong>, 2010).<br />

Já as práticas discursivas, termo que advém <strong>de</strong> Michel Foucault (1996; 2000) para<br />

expressar as condições <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> discursos, conjuntos <strong>de</strong> enuncia<strong>do</strong>s ou formações<br />

discursivas, possibilitam o exercício <strong>de</strong> conhecimentos que operam e<br />

instituem acontecimentos em campos estratégicos. Seu estu<strong>do</strong> não se restringe<br />

a palavras e frases ou aos significa<strong>do</strong>s que elas possuem, mas se volta também<br />

para a compreensão das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que perpassam os discursos e suas<br />

condições <strong>de</strong> produção.<br />

Segun<strong>do</strong> o referencial teórico-meto<strong>do</strong>lógico a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> neste trabalho, a explicitação<br />

<strong>do</strong>s passos <strong>de</strong> análise constitui parte fundamental, uma vez que a escolha e<br />

o uso das ferramentas nos procedimentos <strong>de</strong> análise buscam tanto dar visibilida<strong>de</strong><br />

ao rigor meto<strong>do</strong>lógico <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r/analista quanto dar voz às pessoas<br />

pesquisadas, função primeira <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Nessa perspectiva, é relevante <strong>de</strong>screver as pessoas que participaram <strong>do</strong>s grupos<br />

focais:<br />

(A) Mulheres 19 – apenas <strong>do</strong>is homens integraram os grupos focais;<br />

(B) Beneficiários <strong>de</strong> <strong>programas</strong> sociais <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> renda ou <strong>de</strong> <strong>programas</strong><br />

complementares – em <strong>de</strong>z <strong>do</strong>s <strong>do</strong>ze grupos realiza<strong>do</strong>s;<br />

(C) Não beneficiários – em <strong>do</strong>is grupos <strong>de</strong> controle (ou seja: somente em<br />

<strong>do</strong>is <strong>do</strong>s grupos realiza<strong>do</strong>s).<br />

Nos grupos focais, os mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>res propuseram temas específicos, para que<br />

as participantes <strong>de</strong>batessem, discutissem, respon<strong>de</strong>ssem, esclarecessem, opinassem<br />

etc. As respostas e opiniões das participantes foram dadas em forma<br />

<strong>de</strong> narrativa, diálogo, perguntas, silêncio, <strong>de</strong>bate, dicas, troca <strong>de</strong> informações e<br />

conversa. Cada participante tem relação com o lugar a que pertence – (A) ou (B)<br />

–, com a interanimação dialógica <strong>do</strong> grupo e o mo<strong>do</strong> como se posicionam ou são<br />

posicionadas em relação a <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s temas no <strong>de</strong>bate – chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> posicionamento<br />

interativo-reflexivo (Davies; Harré, 1990).<br />

Na dinâmica das conversações, temos o posicionamento interativo, ou seja,<br />

como o outro me posiciona a partir <strong>de</strong> uma fala e o posicionamento reflexivo<br />

que diz <strong>de</strong> como me posiciono em relação à fala <strong>do</strong> outro. Essa noção permite<br />

focar as práticas discursivas presentes nas relações cotidianas das pessoas,<br />

em que novos senti<strong>do</strong>s são produzi<strong>do</strong>s e negocia<strong>do</strong>s constantemente por<br />

quem fala (spearkers) e por quem escuta (hearers). (Nascimento, 2002, p. 11)<br />

Avaliação <strong>de</strong> <strong>Impacto</strong> <strong>do</strong> <strong>Efeito</strong> Conjuga<strong>do</strong> <strong>de</strong> Programas <strong>de</strong> Transferência <strong>de</strong><br />

Renda e Complementares na Região Metropolitana <strong>de</strong> São Paulo<br />

18 O autor que melhor <strong>de</strong>senvolveu a importância <strong>do</strong>s argumentos retóricos na Psicologia Social foi Michael Billig, principalmente em<br />

seu livro Argumentan<strong>do</strong> e Pensan<strong>do</strong>, publica<strong>do</strong> em 2008, sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s funda<strong>do</strong>res da Psicologia Social Discursiva.<br />

19 Conforme já menciona<strong>do</strong> na nota <strong>de</strong> rodapé 12, este estu<strong>do</strong> qualitativo optou por usar, em alguns trechos, o gênero feminino para<br />

se referir a quem participou da pesquisa – as participantes –, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcar a presença majoritária das mulheres nos <strong>do</strong>ze grupos<br />

focais (GFs), os quais contaram com a participação <strong>de</strong> apenas <strong>do</strong>is homens.

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