12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

Entrando sorrateiramente no quarto <strong>de</strong> dormir da sua senhora, o moleque<br />

<strong>de</strong>posit<strong>ou</strong> sobre o lavatório a carta que lhe tinha sido confiada. A curiosida<strong>de</strong> feminil<br />

incumbiu-se <strong>de</strong> tornar bem sucedido o ardil do triunvirato para a satisfação dos seus<br />

cálculos ulteriores.<br />

A Sra. D. Maria ao ver a carta represent<strong>ou</strong> a eterna cena <strong>de</strong> Eva diante do<br />

pomo proibido.<br />

Habituara-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros tempos <strong>de</strong> casada, a abrir toda a carta que<br />

lhe fosse dirigida, em presença do seu marido. Era uma obrigação que<br />

voluntariamente se impusera e que <strong>de</strong>sempenhava satisfeita.<br />

Ao ver, porém, aquela carta misteriosamente colocada em lugar reservado, a<br />

Sra. D. Maria sentiu quebrar-se-lhe a ca<strong>de</strong>ia do passado e afogueá-la uma nova<br />

resolução.<br />

Rasg<strong>ou</strong> sofregamente a sobrecarta e leu avidamente as linhas tortuosas<br />

lançadas sobre um papel ordinário.<br />

Terminada a leitura, a senhora conserv<strong>ou</strong>-se por muito tempo no quarto, <strong>de</strong><br />

pé diante do movei, pálida como se a tivesse acometido uma instantânea anemia.<br />

De vez em quando erguia a carta e repassava alguns dos períodos em voz baixa e<br />

trêmula.<br />

Quando saiu aceit<strong>ou</strong> com triste boa vonta<strong>de</strong> as carícias inocentes dos seus<br />

filhos, e apertando ao colo o caçula disse-lhe, como se pu<strong>de</strong>sse ser por ele<br />

entendida.<br />

Deves querer muito bem a tua mamãe, filhinho, porque teu pai já não a<br />

estima.<br />

O mistério da tristeza da Sra. D. Maria foi, porém, surpreendido por <strong>Motta</strong><br />

<strong>Coqueiro</strong> quando ela menos esperava.<br />

Joaquim Licério vinha freqüentemente a Campos para efetuar transações<br />

indispensáveis ao seu negócio, e por isso cheg<strong>ou</strong> também a Campos uma semana<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>Coqueiro</strong>.<br />

Sendo forçado a <strong>de</strong>morar-se por mais tempo do que <strong>de</strong>sejava, resolveu<br />

<strong>de</strong>spachar os seus empregados por ser este expediente aconselhado pela boa<br />

economia, e ficar só na cida<strong>de</strong>.<br />

Partiria <strong>de</strong>pois em qualquer canoa que fosse para Macabu, o que não era<br />

difícil porque havia sempre gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong>las em viagem para lá.<br />

Infelizmente, na oportunida<strong>de</strong> da partida, Licério não encontr<strong>ou</strong> a sair senão<br />

as canoas das balsas <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, mas nem por isso julg<strong>ou</strong> o obstáculo<br />

custoso <strong>de</strong> remover-se.<br />

Lembrando-se da carta que havia escrito e que <strong>de</strong>via ter chegado às mãos<br />

da <strong>de</strong>stinatária, enten<strong>de</strong>u que o melhor meio <strong>de</strong> captar a benevolência do fazen<strong>de</strong>iro<br />

era informá-lo das ciladas que lhe armavam.<br />

Certo da procedência <strong>de</strong>ste meio, procur<strong>ou</strong> encontrar-se com <strong>Motta</strong><br />

<strong>Coqueiro</strong>.<br />

Pensando achá-lo indisposto contra si, Licério admir<strong>ou</strong>-se <strong>de</strong> ser recebido<br />

afavelmente e o seu pedido receber lisonjeiro <strong>de</strong>ferimento.<br />

Para retribuir a bonda<strong>de</strong> do fazen<strong>de</strong>iro, o rábula <strong>de</strong> Macabu enten<strong>de</strong>u que<br />

<strong>de</strong>via reduzir à obra a resolução, e no correr da conversa pergunt<strong>ou</strong> a <strong>Motta</strong><br />

<strong>Coqueiro</strong>:<br />

— Se não é indiscrição, V. S. po<strong>de</strong>rá dizer-me como arranj<strong>ou</strong> as c<strong>ou</strong>sas<br />

para aquietar o Chico Benedito?<br />

— De forma alguma, porque até esta data não tem havido nada que valha a<br />

pena entre nós.<br />

112

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!