Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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— Ora, eu tenho amiza<strong>de</strong> a si Chiquinha, filha <strong>de</strong> vosmecê, e fazia gosto em<br />
casar com ela, se vosmecê quisesse.<br />
O velho, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> arregalar muito os olhos, e coçar a cabeça, respon<strong>de</strong>u<br />
vagarosamente:<br />
— Homem, eu sei lá, isto é com vocês crianças. A rapariga po<strong>de</strong> não se<br />
arrumar e quem fica mal s<strong>ou</strong> eu, e... no fim <strong>de</strong> contas, seu Sebastião, eu est<strong>ou</strong> aqui<br />
<strong>de</strong> fresco, e sem fazer escândalo, perdoe que lhe diga, eu não conheço bem você.<br />
— Pois tire indagações, seu Chico; olhe não lhe hão <strong>de</strong> dizer que eu s<strong>ou</strong><br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iro, nem ladrão, nem que tenha feito mortes.<br />
— Eu lhe digo já, seu Sebastião, pelo que você me parece, está feito, mas<br />
sempre quero <strong>ou</strong>vir o que me diz o... uma pessoa.<br />
Aquele uma pessoa proferido pelo velho caus<strong>ou</strong> um estremecimento nos<br />
três; Manuel João principalmente quase per<strong>de</strong>u os sentidos.<br />
O velho, porém, ora coçando a cabeça, ora esfregando as mãos <strong>de</strong>sfez a<br />
meio a impressão <strong>de</strong>sagradável, murmurando:<br />
— Com que seu Sebastião quer que a gente coma doce breve?<br />
— Sim, senhor, seu Chico, se não tiver contra mim alguma receita <strong>de</strong> gente<br />
<strong>de</strong> boca amargosa.<br />
— Qual, não há <strong>de</strong> ser tanto assim.<br />
Um aceno <strong>de</strong> Sebastião lev<strong>ou</strong> o Viana da venda a tartamu<strong>de</strong>ar para o Chico<br />
Benedito:<br />
— E que diria vosmecê, seu Chico, se eu viesse nas águas <strong>de</strong> Sebastião?<br />
— Sem escândalo, respon<strong>de</strong>u o velho com uma longa risada; dizia que a<br />
vista faz fé.<br />
— Muito obrigado, seu Chico, eu é com sá Antonica, se vosmecê fizer gosto.<br />
— Olé, quer ver que vocês todos três querem me <strong>de</strong>penar a casa?<br />
E pôs-se a rir muito, sendo imitado pelos três, e em seguida levant<strong>ou</strong>-se,<br />
encheu a caneca e apresent<strong>ou</strong>-a aos triúnviros rústicos.<br />
— Vá este codório à boa harmonia. Eu nada <strong>de</strong>cido; mas vá à saú<strong>de</strong>.<br />
Na sala imediata <strong>ou</strong>viram-se neste instante risadas, cochichos, e o rufe-rufe<br />
<strong>de</strong> saias engomadas.<br />
— Oh! Meninas venham falar aqui, exclam<strong>ou</strong> o velho.<br />
Ao mesmo tempo entraram na sala Mariquinhas e Antonica, enquanto o<br />
velho murmurava com bonomia:<br />
— An<strong>de</strong>m lá, suas matreiras, velhaquetes <strong>de</strong> uma figa; aon<strong>de</strong> está a que<br />
falta, fugiu?<br />
— Não senhor, respon<strong>de</strong>ram as moças ao mesmo tempo que lhe beijavam a<br />
mão; vem aí com seu capitão!<br />
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