12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

Resolveu-se então que se Carolina não morresse nessa noite, logo pela<br />

manhã a senhora acompanhá-la-ia para a cida<strong>de</strong> a fim <strong>de</strong> serem prestados os<br />

socorros médicos à cri<strong>ou</strong>la.<br />

Esta inopinada mudança do sítio seria entretanto <strong>de</strong>finitiva. O corte da<br />

ma<strong>de</strong>ira estava quase concluído e brevemente <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

residir aí. A senhora, portanto, não precisava mais <strong>de</strong> voltar para contrariar-se em<br />

residir em um lugar, com o qual antipatizava.<br />

No dia seguinte efetu<strong>ou</strong>-se a mudança, e uma canoa, vigorosamente<br />

remada por braços robustos, voava em direção a Campos.<br />

A casa gran<strong>de</strong> caiu na mais sombria tristeza; dir-se-ia que a torturavam<br />

sauda<strong>de</strong>s amargas ao recordar-se dos dias em que repercutiam sonoras as alegrias<br />

da família.<br />

Alguém no entanto contrastava com esta tristeza; era Manuel João, que<br />

aplaudia-se por ter agora ocasião <strong>de</strong> vigiar <strong>de</strong> perto os passos do seu amo.<br />

Ficando só, <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> passava as p<strong>ou</strong>cas horas <strong>de</strong> lazer na casa do<br />

compadre, mas, com gran<strong>de</strong> espanto <strong>de</strong> Manuel João, nunca penetrava no interior<br />

do casarão. Assentava-se à porta <strong>ou</strong> conservava-se a cavalo enquanto entretinha-se<br />

a narrar c<strong>ou</strong>sas banais e ao paladar dos <strong>ou</strong>vintes.<br />

Um dia, porém, o feitor teve ocasião <strong>de</strong> recordar-se do que lhe dissera<br />

Carolina no dia em que cortaram as relações.<br />

— Compadre, disse <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>; eu v<strong>ou</strong> começar amanhã o carreamento<br />

da ma<strong>de</strong>ira e precisava que você e seu filho ajudassem-me.<br />

— Eu sei, compadre; mas, eu já est<strong>ou</strong> velho e o Juca para que diabo serve?<br />

— Então vocês não prestam nem para amarrar uma balsa? Saiba, comadre,<br />

a qualida<strong>de</strong> dos homens que tem.<br />

A família riu-se muito e <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> continu<strong>ou</strong>:<br />

— E eu que tive tenções <strong>de</strong> chamar este meu amigo para feitor; estava bem<br />

arranjado!<br />

— Mas isto era <strong>ou</strong>tra coisa e se o compadre quiser...<br />

— Veremos; por agora quero somente que vocês se ocupem <strong>de</strong> embalsar a<br />

ma<strong>de</strong>ira.<br />

A larga faca <strong>de</strong> Manuel João luziu fora da bainha; o <strong>de</strong>speito esbraseava-lhe<br />

as faculda<strong>de</strong>s revoltas; não pensava, não discernia; o cérebro exalava-lhe espessas<br />

labaredas <strong>de</strong> ódio e <strong>de</strong> cólera.<br />

Surgindo <strong>de</strong>ntre uma espessa moita <strong>de</strong> pexiriqueiras, colocada perto da<br />

pare<strong>de</strong> do casarão e que lhe servia <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>rijo, o feitor seguiu pé ante pé, e teria<br />

realizado os seus fins se não se <strong>de</strong>sse uma circunstância feliz.<br />

<strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> que se conservara a cavalo, enquanto conversava com o<br />

compadre, ao dizer-lhe as últimas palavras, tinha-se feito ao largo.<br />

O feitor, para atacá-lo, <strong>de</strong>via investir <strong>de</strong> frente; mas era bastante cobar<strong>de</strong><br />

para não tentar semelhante cometimento.<br />

Indignado contra si próprio e contra a falsida<strong>de</strong> que sempre <strong>de</strong>fendia o seu<br />

rival imaginário, o feitor tom<strong>ou</strong> o caminho da venda do Viana.<br />

Ao chegar, o ven<strong>de</strong>iro que <strong>de</strong>scobrira nas feições <strong>de</strong>scompostas o tumultuar<br />

dos sentimentos do amigo, pergunt<strong>ou</strong>-lhe sobressaltado o que tinha havido no sitio.<br />

50

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!