Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
No sítio <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> duas pessoas pa<strong>de</strong>ciam horrivelmente; eram<br />
Antonica e o fazen<strong>de</strong>iro.<br />
O acaso parecia divertir-se em aglomerar contrarieda<strong>de</strong>s em torno <strong>de</strong> <strong>Motta</strong><br />
<strong>Coqueiro</strong> e esbarrá-lo <strong>de</strong> encontro a elas.<br />
A canoa que levara a família para a cida<strong>de</strong> tinha voltado e uma carta escrita<br />
pela esposa <strong>de</strong> <strong>Coqueiro</strong> veio colocá-lo em posição embaraçosa.<br />
Na carta, a Sra. D. Maria, <strong>de</strong>pois das expansões peculiares a uma ausência<br />
<strong>de</strong> consorte, ocupava-se com a moléstia <strong>de</strong> Carolina, nestes termos:<br />
— A rapariga está salva, graças aos cuidados do médico, mas ainda está<br />
muito abatida. V<strong>ou</strong>, porém, comunicar-lhe uma c<strong>ou</strong>sa curiosa a respeito:<br />
O médico, admirado do <strong>de</strong>svelo com que tratava-se Carolina, disse-me que<br />
ela não o merecia, porque a doença não era natural, mas sim provocada pela<br />
escrava.<br />
Como era <strong>de</strong> meu <strong>de</strong>ver interroguei-a e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito negar, confess<strong>ou</strong><br />
por fim que era verda<strong>de</strong> o que o médico revel<strong>ou</strong>-me, e cont<strong>ou</strong>-me o seguinte:<br />
"No dia em que adoeceu, acord<strong>ou</strong>-se mais cedo do que <strong>de</strong>via e, para não<br />
ser enganada pelo sono e assim faltar à revista, resolveu-se a não tornar a <strong>de</strong>itar-se.<br />
Como o luar era claro como o dia, diz ela que, para matar o tempo, saiu e<br />
pôs-se a passear por perto das casas da fazenda. Assim foi andando até a casa do<br />
compadre.<br />
Aí tom<strong>ou</strong> um violento susto porque inesperadamente estac<strong>ou</strong> diante <strong>de</strong> dois<br />
vultos.<br />
Estes, percebendo a sua chegada, correram e ela pô<strong>de</strong> reconhecer Manuel<br />
João e uma das filhas do compadre, que lhe pareceu ser a Mariquinhas, aquela<br />
Mariquinhas, que nós tínhamos por uma santa.<br />
O choque sofrido por Carolina fez-lhe mal e quando volt<strong>ou</strong> para casa sentiu<br />
já os primeiros sintomas da moléstia, que quase mat<strong>ou</strong>-a.<br />
Não querendo dar parte <strong>de</strong> doente, porque se envergonhava <strong>de</strong> dizer o que<br />
tinha, <strong>de</strong>cidiu-se a tratar-se por si mesma, tomando um chá que lhe disseram que<br />
era bom.<br />
O remédio, porém, longe <strong>de</strong> fazê-la melhorar, <strong>de</strong>u em resultado o trabalho<br />
que temos tido para curá-la, e o susto que tivemos <strong>de</strong> perdê-la.<br />
Vim <strong>de</strong>pois a saber por uma das mucamas que Manuel João era amante <strong>de</strong><br />
Carolina e ela confirm<strong>ou</strong>-mo.<br />
Avalie quanto estes fatos <strong>de</strong>vem ter-me incomodado. Eu sempre tive<br />
escrúpulos das relações com a família do compadre, e agora impressiona-me<br />
extraordinariamente a lembrança das suas familiarida<strong>de</strong>s com essa gente.<br />
Há por força um fundo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> na confissão <strong>de</strong> Carolina e péssima vista<br />
fará a sua convivência em uma casa, que dá guarida aos caprichos dos feitores."<br />
Depois <strong>de</strong>stas consi<strong>de</strong>rações e <strong>de</strong> recomendações familiares, havia na carta<br />
este post scriptum:<br />
— O embalsamento da ma<strong>de</strong>ira parece que não terá fim tão cedo.<br />
Da primeira leitura <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> compreen<strong>de</strong>u apenas que havia<br />
esperdiçado os seus sentimentos generosos, quando encarreg<strong>ou</strong>-se<br />
espontaneamente <strong>de</strong> punir o que ele chamava um miserável abuso do ex-feitor.<br />
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