Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
O monstro busc<strong>ou</strong> inutilmente profanar aos olhos do pai subjugado a<br />
grinalda virgínea da infeliz amante, o heroísmo do pudor teve forças para resistir-lhe<br />
e o bárbaro e <strong>de</strong>sumano assassino viu-se obrigado a santificar com a morte a<br />
virginda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Antonica.<br />
— Confessa, amigo Francisco, disse o escárnio da fera; confessa que eu sei<br />
vingar-me. Já não contavas comigo, e entretanto não esqueci a divida <strong>de</strong> <strong>ou</strong>trora;<br />
pago-a com juros. Morre pois, oh! Cão!<br />
A planta do selvagem coloc<strong>ou</strong>-se sobre a garganta <strong>de</strong> Francisco Benedito,<br />
que estrebuchava violentamente. Depois o monstro recu<strong>ou</strong> um passo e disse como<br />
que arrependido do seu ato:<br />
— Não! Envenenaste a minha vida, morre como o sucuruiu.<br />
Uma foiçada, <strong>de</strong>sfechada nas têmporas do agregado, pôs termo ao seu<br />
inenarrável sofrimento.<br />
Concluída a matança, o monstro ate<strong>ou</strong> fogo aos quatro cantos da casa e<br />
saiu lentamente, <strong>de</strong>ixando sobre a mesa a lamparina, cuja luz alumiava agora cinco<br />
cadáveres!<br />
A escuridão do terreiro espanc<strong>ou</strong>-se pelo clarão vermelho dalgumas<br />
labaredas, e o monstro, parando e voltando-se para a casa incendiada, exclam<strong>ou</strong><br />
com trêmulo e sombrio acento:<br />
— Ninguém! Amanhã tudo isto será um monta-o <strong>de</strong> cinzas e não haverá um<br />
criminoso pela extinção da família do malvado.<br />
As últimas palavras foram porém acompanhadas pelo ronco longínquo <strong>de</strong><br />
um trovão, e alguns segundos <strong>de</strong>pois as nuvens negras do céu <strong>de</strong>spejavam sobre o<br />
incêndio uma chuva torrencial.<br />
CAPÍTULO XI<br />
INDÍCIOS IRREFUTÁVEIS<br />
Sob o temporal <strong>de</strong> feito, singrava rio acima uma canoa, cujo impulso<br />
represando e fazendo espumar ruidosamente a corrente abria duas gran<strong>de</strong>s asas<br />
níveas na escuridão das águas e da noite.<br />
Gradativamente os remadores foram aliviando os remos, e afinal a canoa<br />
par<strong>ou</strong>.<br />
— Nas horas <strong>de</strong> Deus! Exclamaram eles; estamos em casa.<br />
Estavam <strong>de</strong> feito no porto do sitio <strong>de</strong> Macabu, proprieda<strong>de</strong> do capitão <strong>Motta</strong><br />
<strong>Coqueiro</strong>, que, vindo a bordo, trat<strong>ou</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarcar logo que <strong>ou</strong>viu anúncio dos<br />
canoeiros.<br />
— Rapazes, tratem <strong>de</strong> cobrir as cargas, disse ele, e os Srs. venham comigo.<br />
Que viagem terrível!<br />
157