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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

A feiticeira recebia prazenteira as manifestações amistosas dos parceiros,<br />

preconizando a proteção dos céus para os inocentes, e a sua punição para os<br />

injustos.<br />

A refeição ia já no fim, quando cheg<strong>ou</strong> ao lugar o novo feitor, o <strong>de</strong>stemido<br />

Fidélis, tipo completo do negro <strong>de</strong> fazenda, com todas as suas virtu<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>feitos;<br />

trabalhador e intrigante, supersticioso e vingativo.<br />

Não tinha-lhe favoniado a vaida<strong>de</strong> a inopinada distinção que mereceu ao<br />

senhor, odiava os brancos e sabia que, distinguindo <strong>ou</strong> castigando, o senhor só tem<br />

em vista tirar o maior proveito possível <strong>de</strong> seu escravo.<br />

Recebeu a investidura <strong>de</strong> feitor pela mesma razão por que levantava-se <strong>de</strong><br />

madrugada para a revista, e em seguida trabalhava do sol nascente ao sol posto;<br />

recebeu-a porque era escravo e para este só há uma lei — obe<strong>de</strong>cer.<br />

No mais era uma criatura da tia Balbina, que o consi<strong>de</strong>rava a ponto <strong>de</strong> rir-se<br />

para ele.<br />

Por isso mesmo a sua nomeação foi recebida com entusiasmo pela gente <strong>de</strong><br />

roça, convencida <strong>de</strong> que ia melhorar <strong>de</strong> sorte. Assim é que foram cordialmente<br />

recebidas as primeiras palavras da nova autorida<strong>de</strong>, pondo em exercício as suas<br />

funções. Mandando recomeçar o trabalho, Fidélis disse com lhanura a seus<br />

parceiros.<br />

— Vamos, rapazes! É preciso mostrar que não é necessário chicote para se<br />

fazer o serviço; o negro não é boi, que precisa <strong>de</strong> carreiro e ferrão.<br />

E os escravos voltaram alegremente aos seus cantos, e a manejo das suas<br />

enxadas operando verda<strong>de</strong>iros prodígios <strong>de</strong> trabalho.<br />

A cabinda começ<strong>ou</strong> então a dar o plano infalível <strong>de</strong> que resultaria a total<br />

<strong>de</strong>rrota e perda <strong>de</strong> Manuel João.<br />

Era o mais simples dos planos atacá-lo pelo coração, que suspirava<br />

ar<strong>de</strong>ntemente por uma palavra <strong>de</strong> esperança, por um consolo no perdão.<br />

Carlos se incumbiria <strong>de</strong> dizer ao ex-feitor que Mariquinhas o esperava para<br />

falar-lhe, Fidélis trataria <strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>r com o maior comprometimento a entrevista.<br />

Balbina reserv<strong>ou</strong>-se a parte mais difícil, a <strong>de</strong> fazer com que Mariquinhas se<br />

encontrasse com Manuel João.<br />

Antes, porém, o feitor faria saber ao seu senhor todo o movimento da família<br />

<strong>de</strong> Chico Benedito, conhecido pela feiticeira.<br />

O plano <strong>de</strong> Balbina mereceu inteira aprovação <strong>de</strong> Fidélis, que trat<strong>ou</strong> logo <strong>de</strong><br />

pôr <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> <strong>de</strong> sobreaviso. O fazen<strong>de</strong>iro não viu, porém, nas comunicações<br />

do feitor mais do que a realização das suas suspeitas acerca das intenções dos<br />

noivos, tão caros ao seu compadre, e mais um motivo para insistir com ele a<br />

apressar a construção da casa longe da em que estava agora.<br />

Estava quase a findar-se o trabalho do embalsamento e brevemente <strong>Motta</strong><br />

<strong>Coqueiro</strong> <strong>de</strong>via retirar-se. Urgia, portanto, tomar todas as providências para que o<br />

sítio ficasse em paz durante a sua ausência.<br />

— Compadre, disse um dia <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> a Francisco Benedito; eu v<strong>ou</strong><br />

<strong>de</strong>marcar as terras em que você há <strong>de</strong> levantar a casa.<br />

— A falar verda<strong>de</strong>, compadre, respon<strong>de</strong>u o agregado, isto não me está<br />

cheirando bem. Parece que me quer pôr fora <strong>de</strong> sua casa, e não tem franqueza <strong>de</strong><br />

dizer.<br />

— É uma <strong>de</strong>sconfiança para que não lhe <strong>de</strong>i causa, compadre; o que eu<br />

quero é que você cumpra o trato; no caso contrário é <strong>ou</strong>tra c<strong>ou</strong>sa.<br />

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