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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— A velhaca da Chiquinha, quem diria que gosta do Sebastião, e a sonsinha<br />

da Antonica do seu Viana?! Sua alma, sua palma. Fico ainda com a Mariquinhas e<br />

as três pequenas.<br />

— Mas falta ainda a receita, seu Chico, resmone<strong>ou</strong> Sebastião.<br />

— Não falta nada, gargalh<strong>ou</strong> o velho que tinha esvaziado mais uma caneca.<br />

Sabem que mais? Conversem pra aí com a mulher e <strong>de</strong>ixem-me ir a um negocio.<br />

Os três acompanharam o velho até a porta e aí permaneceram por algum<br />

tempo.<br />

Enquanto a boa da velha entr<strong>ou</strong> para trazer o café aos hóspe<strong>de</strong>s, os três<br />

acercaram-se das moças e cada um começ<strong>ou</strong> a conversar com a sua predileta.<br />

Manuel João, com a voz trêmula, dizia para Mariquinhas, que empali<strong>de</strong>cera<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>ou</strong>viu ao pai dizer o motivo da visita <strong>de</strong> Sebastião e Viana:<br />

quero.<br />

— Só sá Mariquinhas é que ainda não tem noivo.<br />

— Eu não posso obrigar ninguém a querer casar comigo, e eu mesma não<br />

— Talvez, si Mariquinhas, haja quem queira e não possa.<br />

— Boas; quem quer po<strong>de</strong> sempre.<br />

— E se fosse um pobre feitor, sem eira nem beira.<br />

— Eu também não s<strong>ou</strong> princesa, e, trabalhando nós dois, havíamos <strong>de</strong> viver.<br />

— E se seu pai não quisesse; se ficasse zangado com vosmecê?<br />

— Paciência; mas eu queria sempre.<br />

Esta ingênua revelação do amor puro <strong>de</strong> Mariquinhas quase enl<strong>ou</strong>queceu o<br />

<strong>de</strong>sventurado feitor; sorria enquanto que as lágrimas lhe escorregavam pelas faces.<br />

Por sua vez Mariquinhas tinha os olhos pregados no chão e com as pontas do<br />

indicador e polegar beliscava o vestido sobre os joelhos.<br />

Não havia dúvida, o feitor era amado, e isto era para ele a maior <strong>de</strong> todas as<br />

venturas.<br />

— Fic<strong>ou</strong> zangada comigo, pelo que eu fiz, si Antonica? Murmurava Viana.<br />

— Eu o que não quero <strong>de</strong>pois é estralada; vocês voltam a cabeça da gente e<br />

<strong>de</strong>pois... passe muito bem, porque os pobres não regulam.<br />

— Não diga isto, si Antonica; o diabo não é tão feio como se pinta.<br />

— Não digo, não: está lembrado do que me disse na brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Santo<br />

Antônio? Case e <strong>de</strong>pois comece com histórias.<br />

— Naquela noite eu estava meio tonto, minha negra; águas passadas não<br />

moem moinho.<br />

— E... quem <strong>ou</strong>ve agora o capeta!<br />

Debruçados na janela, conversavam Sebastião e Chiquinha. O violeiro<br />

esforçava-se por convencer a moça <strong>de</strong> que <strong>de</strong>via ce<strong>de</strong>r a um pedido que lhe fazia.<br />

Tinha c<strong>ou</strong>sas que dizer-lhe mas não queria que o <strong>ou</strong>vissem.<br />

— Ó Chiquinha, dizia ele; que diabo <strong>de</strong> medo é este? Eu não s<strong>ou</strong> bicho; e já<br />

pedi você.<br />

— Não é por isso; é que papai po<strong>de</strong> ficar zangado; você bem sabe o gênio<br />

<strong>de</strong>le, em cismando está tudo perdido.<br />

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