12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

mesmo o pai <strong>de</strong> Chiquinha não duvid<strong>ou</strong> aceitar as <strong>de</strong>sculpas que lhe foram<br />

oferecidas pelo amigo.<br />

Bem simples foram estas.<br />

Sebastião confess<strong>ou</strong>-se culpado <strong>de</strong> lesa-amiza<strong>de</strong>, mas atenuando a sua<br />

culpa pela impossibilida<strong>de</strong> dê resistir à torrente das circunstâncias que o arrast<strong>ou</strong> na<br />

sua onda vertiginosa.<br />

Chiquinha pa<strong>de</strong>cia a olhos vistos: não tinha mais a frescura da mocida<strong>de</strong>, já<br />

no seu semblante não brilhava o plenilúnio da paz íntima que se esbatia em sorrisos<br />

<strong>de</strong>scuidosos, em galanteios <strong>de</strong>licados.<br />

Ao contrário: as lágrimas <strong>de</strong>struíam-lhe a p<strong>ou</strong>co e p<strong>ou</strong>co a graciosa<br />

carnação do corpo, e, como os <strong>de</strong>pósitos sedimentares a contextura primitiva do<br />

mundo, alteravam-lhe a harmonia dos contornos, e a regularida<strong>de</strong> feérica das<br />

feições.<br />

Semelhante ao pássaro cujas asas foram molhadas pela tempesta<strong>de</strong>, e sem<br />

tentar um vôo queda tristemente p<strong>ou</strong>sado no galho seco <strong>de</strong> um pequeno arbusto;<br />

Chiquinha, sentindo as suas aspirações presentemente cercadas, conservava-se<br />

resignada no seu <strong>de</strong>sconsolo.<br />

Mas o pássaro entristecido lamenta-se em pios plangentes; assim também a<br />

moça <strong>de</strong>sventurada carpia a sua <strong>de</strong>sdita em flébeis suspiros.<br />

Havia só dois caminhos para mim, acrescent<strong>ou</strong> ainda o violeiro, <strong>ou</strong><br />

abandonar a infeliz Chiquinha, o que seria a sua morte; <strong>ou</strong> adotar um meio qualquer<br />

para aviventar-lhe a esperança, até que seja possível efetuar o consórcio.<br />

Prevenindo a objeção muito proce<strong>de</strong>nte: — ninguém na casa <strong>de</strong> Francisco<br />

Benedito impedia-lhe as visitas e familiarida<strong>de</strong>s, o violeiro <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u-se logo com a<br />

conversa que Lúcio Ribeiro disse-lhe ter <strong>ou</strong>vido a Faustino.<br />

O resultado das explicações do atilado Sebastião foi não só o perdão, mas<br />

também o reconhecimento do agregado pela coragem com que o seu amigo se<br />

expunha aos golpes do fazen<strong>de</strong>iro.<br />

— Já vê, seu Chico, as c<strong>ou</strong>sas como se passaram: eu man<strong>de</strong>i dizer a D.<br />

Maria o que fazia por cá a jóia do marido; ele já sabe que fui eu quem mand<strong>ou</strong><br />

escrever a carta; por força há <strong>de</strong> ter dado or<strong>de</strong>m, <strong>ou</strong> há <strong>de</strong> mandar dar or<strong>de</strong>m aos<br />

escravos para me fazerem uma espera. Livra-te dos ares que eu te livrarei dos<br />

males; foi o que eu pensei. Indo todos os dias à sua casa, seu Chico, era fácil uma<br />

escora e <strong>de</strong>pois quem perdia a vida era eu, porque o diabo tem muito dinheiro para<br />

comprar a justiça.<br />

— Não falemos mais nisso, Sebastião, <strong>de</strong>cidiu Francisco Benedito; o que lá<br />

foi lá foi, tratemos do dia <strong>de</strong> amanhã.<br />

O armistício involuntário que tinha sido concedido ao fazen<strong>de</strong>iro estava<br />

<strong>de</strong>finitivamente findado pela volta <strong>de</strong> uma das potências beligerantes ao pacto <strong>de</strong><br />

guerra.<br />

Cumpre, entretanto, afirmar que as novas operações reduziram-se a simples<br />

escaramuças com o fim <strong>de</strong> arranjar provisões.<br />

Um sério conflito, que evit<strong>ou</strong>-se por uma felicida<strong>de</strong> quase milagrosa, acirr<strong>ou</strong><br />

os ódios e reacen<strong>de</strong>u o fogo dos cometimentos.<br />

O feitor Fidélis acompanhara alguns dos seus parceiros ao mandiocal, para<br />

arrancar-lhe as raízes nutritivas. Aí encontr<strong>ou</strong> o Juca Benedito provendo-se<br />

in<strong>de</strong>vidamente; e este, longe <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpar-se, continu<strong>ou</strong> no seu furto sem dar a<br />

menor importância ao feitor.<br />

118

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!