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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Vamos com histórias, pai Domingos, respon<strong>de</strong>u o feitor, faça o que se<br />

manda e dê ao diabo o que sabe.<br />

O inci<strong>de</strong>nte, que acabamos <strong>de</strong> esboçar, foi o novo rastilho às explosões <strong>de</strong><br />

ódio por parte do agregado, e os acintosos <strong>de</strong>smandos <strong>de</strong>ste foram <strong>de</strong> novo levados<br />

ao conhecimento do fazen<strong>de</strong>iro, que em sucessivas cartas exprobrava-lhe tais atos<br />

e concluía por um estribilho invariável:<br />

Se o compadre não está bem no sítio, nada mais fácil do que abrir preço às<br />

suas benfeitorias. Assim evitaremos questões.<br />

Nenhuma resposta era dada às judiciosas consi<strong>de</strong>rações e benévolos<br />

conselhos <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>. Com referência aos negócios do sítio tinha por último<br />

sabido que Fidélis já se vira obrigado a apontar a sua espingarda contra o filho do<br />

agregado.<br />

A gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> semelhante noticia <strong>de</strong>cidiu <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> a passar alguns<br />

dias no sítio, para certificar-se da verda<strong>de</strong> dos acontecimentos que lhe eram<br />

comunicados.<br />

A Sra. D. Maria acompanh<strong>ou</strong>-o a esta viagem com o intuito <strong>de</strong> avigorar a<br />

energia do marido, quando a compaixão o viesse enfraquecer.<br />

Chegando à noite e inesperadamente o fazen<strong>de</strong>iro não <strong>de</strong>u tempo a<br />

Francisco Benedito para prevenir-se porque no dia seguinte <strong>de</strong> manhã, antes que se<br />

s<strong>ou</strong>besse da sua chegada, dirigiu-se logo à casa nova.<br />

A Sra. D. Maria, que conhecia melhor do que seu marido o gênio traiçoeiro<br />

dos habitantes do interior, não permitiu que o fazen<strong>de</strong>iro fosse inerme e sozinho à<br />

entrevista com o seu compadre; fê-lo acompanhar por dois pretos <strong>de</strong> confiança e<br />

robustos: Domingos e Peregrino.<br />

A presença <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> na casa do agregado foi para este um choque<br />

<strong>de</strong> pavoroso sobressalto.<br />

Trat<strong>ou</strong>-se das benfeitorias e dos abusos, e o fazen<strong>de</strong>iro con<strong>de</strong>n<strong>ou</strong><br />

severamente o procedimento <strong>de</strong>sleal <strong>de</strong> Francisco Benedito, terminando por<br />

apresentar-lhe a única solução razoável.<br />

— O compadre está mal acomodado aqui, <strong>de</strong>sconfia <strong>de</strong> mim, e não po<strong>de</strong><br />

dar-se bem com os escravos. Venda-me as benfeitorias, que lhe pagarei com<br />

vantagem, e mu<strong>de</strong>-se. Eu ofereço-lhe já duzentos mil réis. Serve-lho o preço?<br />

Humilhando-se miseravelmente Francisco Benedito apenas pediu tempo<br />

para pensar quanto ao preço, porque estava também <strong>de</strong>liberado a mudar-se.<br />

Bastavam-lhe somente dois dias <strong>de</strong> espera, no fim dos quais ele diria o que lhe<br />

convinha.<br />

— Pois bem, compadre, respon<strong>de</strong>u o fazen<strong>de</strong>iro; an<strong>de</strong> com isso por bem<br />

para evitar a entrada da justiça neste negócio.<br />

O agregado <strong>ou</strong>viu tudo submisso, mas logo que o fazen<strong>de</strong>iro saiu, mud<strong>ou</strong><br />

radicalmente <strong>de</strong> modos. Cham<strong>ou</strong> sua mulher e pôs-se a blasonar com ela:<br />

— Viste, mulher, já está manso como um cor<strong>de</strong>iro. Há <strong>de</strong> pagar-me bem o<br />

trabalho, se quiser que eu me mu<strong>de</strong>. Agora vamos ver quem é que po<strong>de</strong> mais.<br />

Apronte-me a r<strong>ou</strong>pa, mulher, que eu v<strong>ou</strong> enten<strong>de</strong>r-me com o sub<strong>de</strong>legado e o<br />

inspetor.<br />

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