Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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Despachado Faustino; <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> dirigiu-se a Florentino para <strong>de</strong>sculparse<br />
com ele por não po<strong>de</strong>r cumprir já a sua palavra.<br />
— São terras, Sr. Flor, e não é possível comprá-las sem ver. Ora eu est<strong>ou</strong><br />
doente e além disso não posso <strong>de</strong>morar-me; tenha paciência, trataremos do negócio<br />
mais tar<strong>de</strong>.<br />
Efetuando o movimento habitual dos sertanejos, quando alguma c<strong>ou</strong>sa não<br />
se efetua conforme os seus <strong>de</strong>sejos, Florentino levant<strong>ou</strong> os olhos para o céu.<br />
Em seguida erguendo o braço e apontando para o oci<strong>de</strong>nte, disse com<br />
extraordinário espanto.<br />
— Olhe, seu capitão, que gran<strong>de</strong> nuvem <strong>de</strong> urubus está a fazer verão acolá.<br />
— É verda<strong>de</strong>, confirm<strong>ou</strong> o fazen<strong>de</strong>iro, e em seguida pergunt<strong>ou</strong> a Fidélis: por<br />
que diabo não manda você enterrar os animais mortos?<br />
— Não falt<strong>ou</strong> nenhum cá no sítio, meu senhor.<br />
— Isto pelo que eu vejo, anda <strong>de</strong>sgamelado, seu mestre; disse <strong>Motta</strong><br />
<strong>Coqueiro</strong> para o feitor; havemos <strong>de</strong> ver se falta <strong>ou</strong> não. Vá já, com alguns dos seus<br />
parceiros, fazer enterrar o animal, que encontrar morto.<br />
Fidélis, acompanhado dos seus parceiros Carlos, Alexandre, Sabino,<br />
Guilherme, Peregrino e Domingos, seguiu em direção à negra revoada.<br />
Todos os <strong>ou</strong>tros escravos e os dois homens livres retiraram-se, ficando<br />
apenas no terreiro o <strong>de</strong>sventurado fazen<strong>de</strong>iro e Balbina que ao longe resmungava<br />
sarcasticamente:<br />
— Fingimento <strong>de</strong> branco, só Deus po<strong>de</strong> ver no coração <strong>de</strong>le; o rosto não<br />
muda. Manda matar os malungos e fica tão fresco como se mandasse surrar o<br />
escravo. O forro atin<strong>ou</strong> logo com os urubus, e o <strong>ou</strong>tro trat<strong>ou</strong> logo <strong>de</strong> se pôr na picada.<br />
Só os negros foram <strong>de</strong>pressa para fazer o enterro dos <strong>de</strong>funtos que o fogo<br />
não queim<strong>ou</strong>. Enterrem: Balbina irá mostrar o lugar. A Estrela do céu fugiu da porta<br />
dos brancos para que a escrava pu<strong>de</strong>sse vingar-se do senhor sem coração, que a<br />
mand<strong>ou</strong> surrar, e dos parceiros que não tiveram dó <strong>de</strong>la. Balbina não terá pena. O<br />
caçula ficará sem o pai, e o pai sem os escravos, Balbina estima o caçula mas não<br />
terá dó <strong>de</strong> seu pai.<br />
Os hóspe<strong>de</strong>s do fazen<strong>de</strong>iro vieram encontrá-lo em agitação febril, dir-se-ia<br />
que era cruciado por invencíveis remorsos.<br />
O mau humor traía-se-lhe pelos monossílabos que resumiam as suas<br />
respostas, e a instabilida<strong>de</strong> das posições, que tomava, <strong>de</strong>nunciava a sua<br />
impaciência, <strong>de</strong> tal forma que o Sr. Conceição viu-se forçado a dizer-lhe à purida<strong>de</strong>:<br />
— Oh! Meu amigo, não é preciso que todos saibam do que se pass<strong>ou</strong>.<br />
Estavam sentados à mesa, almoçando, os hóspe<strong>de</strong>s, que <strong>de</strong>viam seguir<br />
viagem neste mesmo dia, quando Fidélis entrando, arquejante <strong>de</strong> cansaço, disse<br />
para o seu senhor que lhe precisava falar em particular.<br />
O semblante do negro, on<strong>de</strong> estava gravado o espanto, fez com que o<br />
fazen<strong>de</strong>iro se levantasse precipitadamente,<br />
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