Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
H<strong>ou</strong>ve um instante <strong>de</strong> silêncio, durante o qual o pudor da menina, quase<br />
<strong>de</strong>sfalecida, foi posto a tratos pelo facínora.<br />
— An! Seu capitão! Que mal lhe fizeram as crianças, tenha dó <strong>de</strong>las.<br />
Este grito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero, proferido por Antonica, <strong>de</strong>teve em meio uma cena<br />
<strong>de</strong> iniqüida<strong>de</strong> indizível.<br />
O malvado ergueu-se <strong>de</strong> súbito e arrastando após si a presa, acocor<strong>ou</strong>-se<br />
junto <strong>de</strong> Francisco Benedito.<br />
— Ouviu o que disse a sua filha, amigo Francisco? Ela pensa que é o<br />
capitão quem se <strong>de</strong>sforra neste momento; e todos, quando encontrarem esta casa<br />
contendo os pedaços da tua raça, hão <strong>de</strong> pensar também que foi o capitão o autor<br />
<strong>de</strong>sta vingança. E eu viverei tranqüilamente; nem ao menos po<strong>de</strong>s levar a<br />
esperança <strong>de</strong> que eu sofra um p<strong>ou</strong>co, uma hora somente! Quanto é bom ter-se<br />
como tu, amigo Francisco, inimigos a cada canto! Os que são mais ofendidos po<strong>de</strong>m<br />
castigar sem temor. Há quem sofra por eles.<br />
A faca do assassino sumiu-se na região torácica da in<strong>de</strong>fesa menina, e duas<br />
vezes mais crav<strong>ou</strong>-se-lhe no seio.<br />
Quando a vítima não dava mais sinais <strong>de</strong> vida, o monstro pass<strong>ou</strong> pelos<br />
beiços a lâmina ensangüentada e disse <strong>de</strong>moradamente:<br />
— Oh! Como é tão doce e cheiroso o sangue dos teus. Devias amar muito a<br />
tua mulher, amigo Francisco, para que tivesses filhas tão bonitas. Faltam-me ainda<br />
duas e é preciso que eu dê conta da tarefa antes que o dia clareie.<br />
A porta do quarto, em que o assassino tinha prendido as duas moças, abriuse<br />
e ele, encostado à foice que antes escon<strong>de</strong>ra, esper<strong>ou</strong> que as <strong>de</strong>sventuradas<br />
saíssem.<br />
As infelizes, abraçadas num canto da casa, soluçavam <strong>de</strong> modo a comover<br />
as feras. O pavor tolhia-lhes o movimento. Eram duas estátuas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero<br />
confundindo nas lágrimas o seu <strong>de</strong>sconsolo.<br />
— É preciso que venham tomar a bênção a seu pai antes que se separem<br />
<strong>de</strong>le, disse o monstro; eu quero ser bom para vocês.<br />
— Oh! Isto é <strong>de</strong>mais! Brad<strong>ou</strong> Antonica, precipitando-se sobre o assassino;<br />
mate-nos mas não escarneça.<br />
A coragem da moça comunic<strong>ou</strong>-se à sua irmã e ambas atiraram-se<br />
valorosas sobre o frio matador.<br />
Mas a foice, vibrada vigorosamente, fen<strong>de</strong>u pelo meio o crânio <strong>de</strong><br />
Mariquinhas, e a <strong>de</strong>sventurada vacil<strong>ou</strong>, e para logo baque<strong>ou</strong> inundada por uma onda<br />
<strong>de</strong> sangue.<br />
Antonica tent<strong>ou</strong> em vão fugir às mãos do homem <strong>de</strong>sapiedado. Num lance<br />
d'olhos fora por ele subjugada e arrastada até junto do velho pai, a quem a vida era<br />
ainda conservada a custo <strong>de</strong> tanto tormento.<br />
— Mate-me; é um benefício; mas diga a quem lhe mand<strong>ou</strong> aqui, diga a <strong>de</strong><br />
que mesmo na hora em que mand<strong>ou</strong> matar-me eu disse que o amava.<br />
156