Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
www.nead.unama.br<br />
E o monstro continuava na sua pressão feroz, ainda que sob ele já não<br />
estivesse mais que um cadáver, cujos olhos <strong>de</strong>smesuradamente abertos e salientes<br />
pareciam querer feri-lo como se fossem dois punhais.<br />
— Amigo Francisco, disse o monstro que se levantara; vais ver como se é<br />
leal e bom pagador.<br />
O agregado apenas podia soltar gemidos abafados. O monstro arrast<strong>ou</strong>-o<br />
até à sala <strong>de</strong> visitas.<br />
Ouviam-se <strong>de</strong>ntro os gritos das duas filhas mais velhas, que batendo à porta<br />
do quarto, a qual o facínora tinha tido o cuidado <strong>de</strong> fechar, exclamavam angustiadas:<br />
— Abram-nos a porta; perdão! Perdão para nosso pai.<br />
Por sua vez as três crianças acordadas, vendo o velho pai estendido por<br />
terra, e o homem <strong>de</strong> má catadura caminhar para elas, choravam, pedindo-lhe que<br />
não as matasse.<br />
— Berra, corja miúda, berrarás em vão. As portas estão fechadas, e a estas<br />
horas não passa viva alma pela estrada.<br />
Peg<strong>ou</strong> então na menor das três crianças, empurrando as <strong>ou</strong>tras que, <strong>de</strong><br />
joelhos e agarradas à irmãzinha, pediam por ela. As duas pobrezinhas caíram<br />
abraçadas uma com a <strong>ou</strong>tra, enquanto que o monstro, sacudindo pelos cabelos a<br />
criancinha, esbofeteava-a sorrindo.<br />
Depois crav<strong>ou</strong>-lhe na garganta as unhas <strong>de</strong> fera, balanç<strong>ou</strong>-a no ar e atir<strong>ou</strong>-a<br />
ao lado do angustiado pai, que vasquejava a sua <strong>de</strong>sgraça.<br />
— Por istozinho, disse ele apontando o cadáver, nem valia a pena<br />
incomodar-se um homem; porém era uma viborazinha que ficava. Vamos às <strong>ou</strong>tras.<br />
Durante o estrangulamento da irmãzinha as duas meninas tinham se<br />
levantado e corrido para o interior, <strong>de</strong>bal<strong>de</strong>, porque não tardaram a ser <strong>de</strong>scobertas<br />
pelo assassino, que as arrast<strong>ou</strong> até à sala.<br />
Uma <strong>de</strong>las teria oito anos, e a <strong>ou</strong>tra onze.<br />
— Vamos primeiro acabar com a mais moça, amigo Francisco, resmung<strong>ou</strong> o<br />
malvado. E preciso que eu ganhe força para sair perfeito o trabalho.<br />
Com violento empurrão a menina foi estirada ao chão, e o <strong>de</strong>mônio do ódio<br />
levantando o pé, bateu-lhe em cheio nas costas. Uma golfada <strong>de</strong> sangue espadan<strong>ou</strong><br />
e foi cair sobre o agregado, e mais uma vítima foi imolada a uma vingança <strong>de</strong> causa<br />
<strong>de</strong>sconhecida.<br />
A menina <strong>de</strong> onze anos foi então arrastada pelo monstro, que assentando-se<br />
num mocho obrig<strong>ou</strong>-a a sentar-se nos seus joelhos.<br />
A lubricida<strong>de</strong> veio então misturar-se à ferocida<strong>de</strong>.<br />
— É realmente bonita, e, pelas dores que tenho sofrido, juro-te, amigo<br />
Francisco, o meu coração está a pedir-me que eu não mate-a.<br />
155