Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama
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www.nead.unama.br<br />
Era a força mágica da verda<strong>de</strong> e da justiça que vencia na luta as tríplices<br />
forças da animadversão popular.<br />
Entretanto o respeitável advogado não tinha atacado o assunto se não pela<br />
face jurídica; limitava-se apenas a analisar o <strong>de</strong>poimento contraditório das<br />
testemunhas e a cegueira dos magistrados na instrução do processo.<br />
Ciciava pelos espectadores o pânico da <strong>de</strong>rrota; como que acordavam <strong>de</strong><br />
um longo pesa<strong>de</strong>lo, cheios <strong>de</strong> <strong>de</strong>speito porque viam fugir-lhes <strong>de</strong>ntre as mãos as<br />
presas, que tinham <strong>de</strong>liberado imolar em holocausto à justiça.<br />
Mas ao mesmo tempo a malignida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobriu meios para justificar as<br />
testemunhas, em sério perigo <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>claradas perjuras.<br />
Um anônimo ach<strong>ou</strong> e fez circular por toda a assembléia uma evasiva, que foi<br />
sancionada como sensata:<br />
— Ora, segredavam-se os espectadores; não há nada a admirar na<br />
confusão das testemunhas; são pobres homens e mulheres que ignoram o sentido<br />
das palavras e que não atinam com a finura e atilamento do advogado, que os quer<br />
per<strong>de</strong>r.<br />
Quase certo da vitória, pela esplêndida <strong>de</strong>rrota que tinha obtido dos inimigos<br />
do seu cliente, o advogado <strong>de</strong>sistiu da palavra, para retomá-la após a réplica da<br />
promotoria. A resposta seria a coroação do triunfo que a e1oquência a serviço <strong>de</strong><br />
uma nobre causa acabava <strong>de</strong> obter.<br />
O promotor público, porém, <strong>de</strong>sistiu do direito <strong>de</strong> replicar; <strong>ou</strong> melhor a<br />
justiça, que havia conservado os réus incomunicáveis, que <strong>de</strong>u azo a que<br />
circulassem boatos <strong>de</strong> uma execução ilegal, negava ainda aos réus o direito <strong>de</strong><br />
ampla <strong>de</strong>fesa quando a opinião começava a abalar-se e a voltar-se a favor <strong>de</strong>les!<br />
Digamos em uma única frase: a justiça prostituiu-se por não ter a coragem<br />
<strong>de</strong> suicidar-se.<br />
O conselho retir<strong>ou</strong>-se para a sala secreta a fim <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r os quesitos<br />
formulados pelo magistrado.<br />
A ansieda<strong>de</strong> dos espectadores chegava já até a irritação; questionava-se,<br />
agredia-se com frases injuriosas; apostava-se pró e contra os réus.<br />
Quando abriu-se a porta da sala para on<strong>de</strong> se retirara o conselho, todos<br />
silenciaram repentinamente.<br />
Foram então lidos em alta voz os quesitos e as suas respostas.<br />
Por unanimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> votos reconheciam-se o crime e as circunstâncias<br />
agravantes e negavam-se todas as atenuantes.<br />
O advogado da <strong>de</strong>fesa, que se fora gradativamente levantando à proporção<br />
que <strong>ou</strong>via as respostas do conselho, fic<strong>ou</strong> finalmente <strong>de</strong> pé, lívido, com o braço<br />
inteiriçado e trêmulo, estátua da indignação, impotente para obstar um crime.<br />
No semblante <strong>de</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> pairava a solenida<strong>de</strong> das gran<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>sgraças.<br />
Termin<strong>ou</strong>-se enfim a longa leitura dos quesitos pelo magistrado, e logo<br />
<strong>de</strong>pois foi <strong>ou</strong>vida a sentença, que, pela <strong>de</strong>cisão do júri, con<strong>de</strong>nava à morte e ainda<br />
nas custas os malsinados réus. O juiz, porém, apelava em nome da lei.<br />
A força pública tom<strong>ou</strong> conta das vítimas que <strong>de</strong>viam expirar às mãos do<br />
carrasco, e a sala foi prontamente esvaziada pelos espectadores que foram abrir<br />
alas à porta do edifício com o propósito <strong>de</strong> insultar, ainda uma vez, o infortúnio dos<br />
seus semelhantes.<br />
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