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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

escrava há <strong>de</strong> chorar e tomar ojeriza dos brancos. Antes o filho não nasça, se há <strong>de</strong><br />

passar tantos trabalhos; antes vá para os anjos no tabuleiro com rosas e girassóis. A<br />

cobra zangada <strong>ou</strong> mor<strong>de</strong> a quem a zanga, <strong>ou</strong> mor<strong>de</strong> o seu corpo <strong>de</strong>la. A mãe que<br />

tem <strong>de</strong> ficar sem o filho, que é seu sangue, é como a cobra zangada.<br />

— Sim, sim, tia Balbina.<br />

— Escuta ainda, criança, continu<strong>ou</strong> a africana, tangendo sempre o chocalho;<br />

— a coral briga com o lagarto; a cobra faz rodilha e saco<strong>de</strong> a língua <strong>de</strong> fogo; o<br />

lagarto pára, estica a cabeça chata e espera. A cobra dá o bote, o lagarto faz roda e<br />

chicotela, e quando é mordido sabe no mato a erva contra a <strong>de</strong>ntada, que mata.<br />

Zambi, que está lá em cima, foi quem lhe ensin<strong>ou</strong> o remédio. Carolina foi mordida no<br />

coração, Zambi lhe ensina o remédio.<br />

De manhã, em jejum, o caldo do limão corta, a cinza do borralho come.<br />

— Sim, sim, tia Balbina.<br />

— Mas é pelo mau senhor, que morre o filho <strong>de</strong> Carolina, que <strong>de</strong>via ser<br />

bonito como seu pai, com seus cabelos cacheados e pele <strong>de</strong> capixaba.<br />

Carolina pôs-se a soluçar.<br />

— A mãe chora porque tem bom coração, mas tem também mau senhor. Se<br />

é pelo feitor não tem que sentir. O Chico, pai da que tir<strong>ou</strong> o sossego <strong>de</strong> Carolina,<br />

entr<strong>ou</strong> na casa dos brancos em tempo <strong>de</strong> lua nova. A semente que se planta nesta<br />

lua, morre, a ma<strong>de</strong>ira que se corta, racha e apodrece. A lua aparece um bocadinho e<br />

entra logo, e tudo fica escuro.<br />

A camaradagem <strong>de</strong> Chico com a casa gran<strong>de</strong> dura p<strong>ou</strong>co; veio na lua nova.<br />

As filhas do agregado gostam <strong>de</strong> gente <strong>de</strong> que o macota tem queixa, e quando ele<br />

s<strong>ou</strong>ber, briga com o agregado.<br />

— Já sabe, já, tia Balbina, exclam<strong>ou</strong> Carolina, que tinha <strong>ou</strong>vido a conversa<br />

do moleque com o feitor.<br />

— Melhor para Carolina e para nós todos. O mau senhor disse a Fidélis que<br />

Manuel João não puxava pela gente, e que o melhor era dar a feitoria ao Chico, <strong>de</strong><br />

quem a gente resmunga. Mas a gente não terá tal feitor, porque eles já estão<br />

rusgando. Fidélis há <strong>de</strong> chamar seu senhor para mostrar o que o agregado faz na<br />

roça dos brancos, e o Chico não terá mais feitor, porque ele é soberbo.<br />

Balbina viveu na casa gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu primeiro senhor, e sabe como são os<br />

brancos. O moleque Carlos vai contar ao senhor que vem toda a noite gente <strong>de</strong> fora<br />

p<strong>ou</strong>sar na casa do Chico, a mucama diz à senhora o que fazem as filhas, e tudo<br />

está acabado entre o agregado e o mau senhor.<br />

Carolina vai primeiro do que os dois junto <strong>de</strong> seu senhor, dizer que tem um<br />

filho do feitor, e Manuel João per<strong>de</strong> a feitoria e a filha <strong>de</strong> Chico volta logo as costas<br />

para ele. Carolina conta também a Manuel João que o Chico anda pedindo a feitoria,<br />

há briga entre os dois e Manuel João não volta mais à casa do pai da moça <strong>de</strong> que<br />

ele gosta. Balbina faz o resto.<br />

— Está direito, tia Balbina; eu faço tudo.<br />

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