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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Apareceu então no topo da escada, todo vestido <strong>de</strong> preto, Manuel da <strong>Motta</strong><br />

<strong>Coqueiro</strong> acompanhado por Domingos, Florentino Silva e Faustino Pereira da Silva,<br />

ro<strong>de</strong>ados pela força pública.<br />

Os <strong>de</strong>sgostos tinham <strong>de</strong>scorado as faces do fazen<strong>de</strong>iro e branqueado <strong>de</strong><br />

todo as barbas, que caíam-lhe como um disco <strong>de</strong> arminho sobre a gola da<br />

sobrecasaca preta.<br />

Entrecerravam-lhe as pálpebras o constrangimento e o vexame, mas o<br />

andar era firme, e o corpo conservava o aprumo da confiança.<br />

Os <strong>ou</strong>tros réus careciam da serenida<strong>de</strong> aparente, que envolvia a figura<br />

principal do quadro.<br />

Florentino Silva <strong>de</strong>nunciava mais do que todos o pânico pelo qual estava<br />

subjugado; tremia como se fosse presa <strong>de</strong> um violento calafrio.<br />

Faustino, embora aparentando mais sangue frio, traía entretanto a sua<br />

perturbação.<br />

É que sabia ao certo que, fosse qual fosse o resultado do processo, seria<br />

conduzido <strong>de</strong> novo à prisão para nela viver sepultado durante os anos que lhe<br />

faltavam da pena, que se lhe tinha cominada como assassino, além da que <strong>de</strong>via<br />

sofrer pela evasão.<br />

O ignorante Domingos, ainda que não pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>monstrar pelo rosto negro<br />

e sem mobilida<strong>de</strong> o que lhe ia no íntimo, <strong>de</strong>ixava não obstante bem claro que um<br />

pressentimento sinistro fazia-o <strong>de</strong>sanimar.<br />

— Qual júri, nem meio júri para esses malvados, fosse eu autorida<strong>de</strong> e lhes<br />

diria on<strong>de</strong> paravam eles agora, exclam<strong>ou</strong> um espectador vendo entrar os réus.<br />

— Não, senhor; cumpra-se a lei, ela quer assim, seja assim. Po<strong>de</strong> ser que<br />

ele traga documentos que provem que é inocente. Quem sabe lá?<br />

— Ora vá bugiar, meu amigo; mand<strong>ou</strong>-se intimar a mulher e um amigo <strong>de</strong>le<br />

e nenhum dos dois apareceu. Se ele fosse inocente cá estariam todos os seus<br />

parentes e não me consta que esteja aqui nenhum.<br />

— Quanto a isto não; você lembra-se do dia em que ele cheg<strong>ou</strong> aqui pela<br />

primeira vez; lembra-se também da hora do <strong>de</strong>sembarque da corte? Se vissem<br />

algum parente enxovalhavam-no por força, e embora um homem seja muito<br />

criminoso não quer que se <strong>de</strong>satenda a sua família. Eu d<strong>ou</strong>-lhes razão.<br />

— Pobre homem, exclam<strong>ou</strong> em <strong>ou</strong>tro banco um espectador; Deus o proteja<br />

e o <strong>de</strong>fenda.<br />

— Ora essa, homem! Respon<strong>de</strong>ram a esta manifestação <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong>; pois o<br />

senhor tem pena daquele <strong>de</strong>mônio? E preciso <strong>ou</strong> ser um santo <strong>ou</strong> ser tão bom como<br />

ele. Matar uma família inteira, velhos e crianças, e ainda haver quem se condoa <strong>de</strong><br />

semelhante assassino? ...<br />

— O senhor só po<strong>de</strong>rá falar assim <strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>cisão do júri; por ora não.<br />

— Pois tranque-me a boca, se não quiser que eu fale e além disso os<br />

incomodados são os que se mudam.<br />

— No vapor em que ele veio, narrava um homem que parecia merecer<br />

consi<strong>de</strong>ração aos <strong>ou</strong>vintes, teve ocasião <strong>de</strong> escapar-se. Durante toda a noite, as<br />

praças, que enjoaram <strong>de</strong>smesuradamente, ficaram <strong>de</strong>sacordadas, e ele se quisesse<br />

podia ter-se atirado ao mar. Já bem perto <strong>de</strong> terra, ele, que estava completamente.<br />

livre, teve quem o aconselhasse a fugir, e apenas sacudiu negativamente a cabeça.<br />

Portanto é fora <strong>de</strong> dúvida que o infeliz espera justificar-se.<br />

— A mim também parece que isto é um sonho; porque sempre <strong>ou</strong>vi dizer<br />

que <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> não tinha ânimo <strong>de</strong> fazer mal a ninguém.<br />

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