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Somos Semeadores: estratégias identitárias na Escola Normal Sarah

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O ingresso de C. foi permitido por uma mudança <strong>na</strong> legislação. Até 1962, <strong>na</strong>s escolas<br />

normais vigorou a lei orgânica de ensino normal, criada por Gustavo Capanema em 1946.<br />

Esta lei só foi derrogada pela LDB de 1961. A lei de Capanema proibia o acesso de rapazes ao<br />

curso normal, embora <strong>na</strong>quela época só houvesse o Instituto de Educação , as escolas criadas<br />

depois pautavam-se por essa legislação.Com a LDB, essa restrição acabou e os rapazes<br />

puderam entrar a partir do ano de 1962.<br />

Já para sua família a aprovação não parece ter sido tão festejada quanto a de outras<br />

entrevistadas, como afirma C.:<br />

No meu caso específico, não havia uma expectativa muito grande, por parte da<br />

família, no meu ingresso no curso normal. Tanto que fiz, em paralelo, o curso<br />

científico (hoje segundo grau), já pensando no curso superior. Embora, reafirmo que<br />

muito me orgulho em ser professor primário e, como já disse, lecionei por mais de<br />

20 anos (fundamental e supletivo), independente da outra carreira do meu curso<br />

superior.<br />

A entrevista a seguir, destacou pontos que consideramos particularmente relevantes e<br />

sobre os quais nos deteremos:<br />

Desde peque<strong>na</strong>, meus pais diziam que eu gostava de brincar de dar aulas para as<br />

bonecas. (Tinha poucas, pois a situação fi<strong>na</strong>nceira não permitia quantidade). Estudei<br />

em escola pública até o admissão 55 , assim se chamava antigamente. Terminei o<br />

primário e com muito sacrifício passei a estudar em escola particular, pois o curso<br />

gi<strong>na</strong>sial no público era coisa rara. No ginásio 56 (antigo), despertou o que eu trazia<br />

guardado no meu interior: ser professora, porém era difícil seguir este caminho, pois<br />

meus pais eram pobres e eu terminei o curso com muito sacrifício. Meu colégio era<br />

fraco, apesar de fazer parte do grupo dos "bons alunos".<br />

Por ser esforçada, vieram “as ajudas”(sic) dos parentes para fazer Pré <strong>Normal</strong>, curso<br />

que sempre se esperava completar em um ano, era caro e só filhinhas de papai<br />

conseguiam fazer.<br />

Consegui fazer durante um ano, graças a Deus e a muito esforço de minha parte,<br />

pois eu não teria condições de pagar outro ano. Mas vamos ao que interessa. Estudei<br />

muito, não se tinha sábado, domingo, feriado, nem manhã, nem tarde, nem noite. O<br />

objetivo era um só: passar para a <strong>Escola</strong> <strong>Normal</strong>! Vieram as inscrições; que alegria e<br />

emoção, já me sentia importante! E o curso tirava meu último suor até a véspera da<br />

prova.<br />

Chegou o grande dia, a prova foi no Instituto de Educação; muitas tinham o pai e<br />

mãe para acompanhá-los, eu só tinha o dinheiro do trem e do ônibus; cheguei duas<br />

horas antes, talvez.<br />

Primeira prova de matemática. Que sufoco: era a que achava que tinha mais<br />

dificuldade! Voltei da prova nervosa, mas a convicção que havia passado pela 1ª<br />

etapa, e tome cursinho. Saiu a nota e... Passei! Tome cursinho novamente para a<br />

prova de Português e as outras matérias. A prova de português me deixou cheia de<br />

55 O exame de admissão compreendia as provas realizadas pelos alunos para o ingresso no ensino<br />

secundário, que se tor<strong>na</strong>ram de caráter <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l pelo Decreto N º 19.890 de 18 de Abril de 19??????<br />

56 Com a promulgação da Lei Orgânica do Ensino Secundário, em 1942, o ensino passou a se estruturar<br />

em dois ciclos o primeiro que se chamava gi<strong>na</strong>sial e um segundo ciclo subdivido em clássico e científico.<br />

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