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Somos Semeadores: estratégias identitárias na Escola Normal Sarah

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Na verdade, não podemos perder de vista que a própria palavra sertão já carrega em si<br />

uma série de conotações: Hochman (1998) entende que esta expressão era empregada mais<br />

como uma categoria social e política do que geográfica, dado que “sua localização espacial<br />

dependeria da existência do binômio abandono e doença”, o que parece explicitado pelos<br />

trechos abaixo. No primeiro deles, podemos perceber, como para os jor<strong>na</strong>is da época parecia<br />

importante fazer com que a população “tomasse conhecimento” de uma parte da cidade<br />

compreendida além dos limites da área urba<strong>na</strong>:<br />

[...] daqui dessas colum<strong>na</strong>s bradaremos sempre e sempre até que a nossa voz, unida<br />

a de outros batalhadores mais fortes que nós seja ouvida por alguém que não estando<br />

prezo aos grilhões da política lembre-se que o Districto Federal comprehende não só<br />

o trecho da Central a Botafogo, mas extende-se ate Santa Cruz e Guaratiba.<br />

(SANTOS, 2005, p. 38)<br />

Já no segundo, Afrânio Peixoto, a quem já nos referimos no terceiro capítulo deste<br />

trabalho, procura - como médico que era - alertar acerca do potencial de dissemi<strong>na</strong>ção de<br />

doenças que a região poderia ter:<br />

Se raros escapam à doença, muitos têm duas ou mais infestações [...]. Vêem–se,<br />

muitas vezes, confrangido e alarmado, <strong>na</strong>s nossas escolas públicas, crianças a bater<br />

os dentes com o calafrio das sezões [...]. E isto, não nos ‘confins do Brasil’, aqui no<br />

DF, em Guaratiba, Jacarepaguá, <strong>na</strong> Tijuca [...]. Porque, não nos iludamos, o ‘nosso<br />

sertão’ começa para os lados da Avenida [Central] [...] (HOCHMAN, 1998, p. 70).<br />

A partir da leitura de Nízia Trindade 34 (1997), apreendemos que se no início da<br />

colonização brasileira esta expressão traduzia uma idéia de “espaço desconhecido”ou “ terras<br />

para colonizar”, <strong>na</strong> primeira república seu significado foi escorado por três concepções:<br />

doença, abandono e autêntica consciência <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Este sertão que preservava o que era<br />

autêntico, parece ter sido celebrado por boa parte da literatura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Na verdade julgamos<br />

ser pertinente afirmar que este ideal de “essência brasileira”, perpetuado por Euclides da<br />

Cunha em “Os Sertões”, mais de trinta anos antes, tenha talvez motivado Corrêa Magalhães a<br />

34<br />

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