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Somos Semeadores: estratégias identitárias na Escola Normal Sarah

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dúvida, e achei que não havia conseguido. Arrumei minha mala e comecei umas<br />

férias por minha conta <strong>na</strong> casa de uma irmã. Aí veio a surpresa e alegria total, recebi<br />

uma ligação do curso para eu retor<strong>na</strong>r pois estava <strong>na</strong> lista dos aprovados e deveria<br />

voltar para continuar a revisar as matérias restantes. Por sorte não eram<br />

elimi<strong>na</strong>tórias. Fui classificada! Que alegria! Que orgulho! (H.) (grifo nosso)<br />

Gostaríamos de comentar este depoimento à luz dos construtos teóricos de Lawn,<br />

D’avila e Dubar 57 . Cremos perceber que, de forma semelhante ao que ocorria no Instituto de<br />

Educação, o rigoroso exame de seleção do <strong>Sarah</strong> Kubitschek tem muito a dizer a respeito da<br />

expectativa acerca de “para quem” esta escola se desti<strong>na</strong>va. Entendemos que, a exemplo do<br />

que D´Avila identificou no Instituto de Educação da Tijuca, também em Campo Grande se<br />

ambicio<strong>na</strong>va criar uma elite de professores.<br />

Na verdade, além das provas de matemática, português, língua estrangeira etc., lá<br />

também foi instituído o exame físico. Uma de nossas entrevistadas ( N) lembra que seu pai<br />

conseguiu dinheiro emprestado para que ela “arrumasse os dentes”, pois uma saúde bucal<br />

ruim seria motivo de desclassificação. “Até abreugrafia nós tínhamos que apresentar”,<br />

comenta ela. N. lembra que uma das alu<strong>na</strong>s, cuja saúde apresentou problemas, “foi barrada<br />

pela Do<strong>na</strong> Sol. Ela se formou com a gente, mas não pode tomar posse, porque tinha<br />

problemas de saúde. Parece que anos depois ela acabou conseguindo tomar posse. [...] era<br />

uma coisa rigorosa, você tinha valores 58 , você tinha que cultivar valores”.<br />

N. declara sua conster<strong>na</strong>ção com a “decaída” da escola anos mais tarde, provocada,<br />

segundo ela, “porque nível de pobreza passou a ganhar ponto, quem falava que o pai tinha<br />

abando<strong>na</strong>do, que era muito pobre ganhava ponto no exame”. Destacamos inclusive, que todos<br />

os nossos entrevistados, sem exceção, de uma forma ou outra, aludiram ao fato de que anos<br />

depois a escola “passou a nivelar por baixo”. R., por exemplo, chegou a dizer que poucos<br />

anos depois: “qualquer uma de ‘pé rachado’ podia ser professora”. N. nos contara, no início<br />

da entrevista, que sua família era muito pobre, que <strong>na</strong> mais tenra infância ela trabalhara em<br />

57 Alguns destes conceitos já foram inclusive utilizados no capítulo anterior, quando nos detivemos em<br />

alguns momentos da trajetória histórica de construção da identidade docente.<br />

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