Somos Semeadores: estratégias identitárias na Escola Normal Sarah
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Pública, datado de 21 de Julho de 1872 , nele o professor Antonio Severino da Costa denuncia<br />
que :<br />
O artigo 35 do Regulamento de Instrução concede o título e vantagens de professor<br />
adjunto aos alunos maiores de 12 anos que forem aprovados com distinção <strong>na</strong>s<br />
escolas públicas. Mas o desejo de arranjar um filho, um irmão, um sobrinho, um<br />
afilhado ou um protegido, a índole compassiva, bondosa e condescendente do<br />
brasileiro, tem dado lugar a abusos que nem sempre tem sido corrigidos pelos três<br />
exames que o adjunto ainda fica sujeito e, a alguns, tal proteção ou 'felicidade' os<br />
acompanha, que chegaram até no santuário do magistério, desconhecendo a<br />
importância de seu sacerdócio. (Schueler, 2005, p. 385)<br />
Esta era a realidade multifacetada dos docentes nestes anos limiares do século XIX,<br />
que seria também os anos fi<strong>na</strong>is do regime monárquico no Brasil. A República vai, portanto,<br />
“receber” um professor que já possui uma imagem consolidada, que abarca todas as<br />
contradições indicadas nos parágrafos anteriores. Antes de nos reportarmos às transformações<br />
pelas quais a identidade docente passará ao longo do século XX, cumpre que destaquemos um<br />
ponto, ao qual até agora não fizemos menção. Já então se encontrava em pleno vigor o<br />
processo conhecido como feminização do magistério, mais e mais mulheres passavam a se<br />
dedicar à docência, fazendo com que, – como veremos – já <strong>na</strong>s primeiras décadas dos anos<br />
1900, as mulheres fossem majoritárias entre os docentes ligados ao ensino primário. O estudo<br />
detalhado dos motivos que desencadearam este processo- suposta facilidade para conciliar<br />
atividades profissio<strong>na</strong>is e domésticas, baixos salários entre outros- não integram o horizonte<br />
desta pesquisa. Para o interesse da pesquisa, cumpre salientar que, para o período<br />
compreendido entre 1870 e 1889, a crescente presença femini<strong>na</strong> <strong>na</strong> educação, não altera o<br />
cerne da identidade docente que então se consolidara: O professor era por fim um missionário<br />
austero e humilde embora totalmente cônscio do seu dever a cumprir, qual seja, o de<br />
dissemi<strong>na</strong>r valores de ordem e respeito que contribuíssem para que o Brasil pudesse figurar<br />
entre as <strong>na</strong>ções civilizadas do mundo.<br />
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