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Somos Semeadores: estratégias identitárias na Escola Normal Sarah

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Afirmamos que para os políticos locais – particularmente para Miécimo da Silva que,<br />

acreditamos, julgava a escola como sua – a visibilidade era uma “meta”. E é como<br />

manifestação deste objetivo que interpretamos a participação da turma de 1965 nos chamados<br />

Jogos Florais, assim descritos por S.:<br />

104<br />

Na década de 1960, era comum a realização de Jogos Florais, que consistiam em um<br />

concurso de poesias, mais especificamente, de trovas. Trova é um poema pequeno,<br />

composto de quatro versos de sete sílabas, que encerram um pensamento, num total<br />

de vinte e oito sílabas poéticas. Sílaba poética difere das sílabas comuns, porque só<br />

se considera até a última sílaba tônica do verso. Isso quer dizer que, se o verso<br />

termi<strong>na</strong> em uma palavra proparoxíto<strong>na</strong>, as duas últimas sílabas são desprezadas.<br />

Um exemplo: Não sucede o esquecimento<br />

ao perdão, como parece;<br />

pois perdoar, se perdoa,<br />

mas esquecer, não se esquece.<br />

Havia até um Grêmio de Trovadores, do qual faziam parte poetas famosos da época.<br />

Em 1964, trouxeram os Jogos Florais para dentro das <strong>Escola</strong>s Normais, e foram<br />

realizados os I Jogos Florais de <strong>Normal</strong>istas do então Estado da Gua<strong>na</strong>bara.<br />

Tenho a cópia do Diploma de menção honrosa 61 que recebi por ter ficado em 18°<br />

lugar. O diploma é assi<strong>na</strong>do por Luiz Otávio e Adenerval Silva de Souza, dois dos<br />

trovadores mais famosos.<br />

Inesquecível foi o evento realizado no Teatro Municipal 62 , realizado sob a<br />

orientação da professora de Literatura, Alcir Lisboa Cardoso.<br />

Independente de classificação ou não no concurso, ela usou as trovas de todos os<br />

alunos que participaram para fazer o espetáculo teatral, que era ao mesmo tempo<br />

uma amostra dos nossos trabalhos.<br />

O cenário era de uma praça ao entardecer, onde havia bancos de jardim, carros de<br />

pipoca, e no centro da praça, uma estátua. Nós, estudantes-atores, trajávamos nosso<br />

próprio uniforme; o objetivo era passar a idéia de um fim de tarde após as aulas.<br />

Uma música de fundo tocava enquanto nos movimentávamos, fingindo conversar,<br />

<strong>na</strong>morar, comprar e comer pipoca... De repente, a música parava e um(a) aluno(a) ia<br />

à frente do palco e declamava sua trova. O último a declamar foi a estátua. Nesse<br />

momento, o auditório veio abaixo de tantas palmas.<br />

No escopo de nossa dissertação, entendemos esta apresentação, realizada no Teatro<br />

Municipal do Rio de Janeiro, de uma forma bastante particular. A construção do Municipal se<br />

iniciou <strong>na</strong> administração do prefeito Pereira Passos que promoveu uma grande reforma<br />

urbanística <strong>na</strong> cidade, com o objetivo de transformá-la numa capital inspirado nos moldes<br />

franceses. O Municipal foi uma das obras realizadas por uma administração que mudou o<br />

perfil da cidade do Rio de Janeiro, fazendo com que esta perdesse o apelido de Cidade da<br />

Morte e passasse a ser conhecida como Cidade Maravilhosa. Foi neste espaço requintado e<br />

61 Em anexo<br />

62 Um acontecimento que à luz de nossas interpretações aparece como a inserção do tradicio<strong>na</strong>l “sertão”<br />

carioca em um dos símbolos mais tradicio<strong>na</strong>is da cultura urba<strong>na</strong> do Rio de Janeiro.

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