Linguagem e Comunicação no Jardim-de-Infância
Linguagem e Comunicação no Jardim-de-Infância
Linguagem e Comunicação no Jardim-de-Infância
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Aquisições sintácticas<br />
tardias<br />
<strong>Linguagem</strong> e <strong>Comunicação</strong> <strong>no</strong> <strong>Jardim</strong>-<strong>de</strong>-<strong>Infância</strong><br />
O aprendiz <strong>de</strong> falante<br />
Aos três a<strong>no</strong>s, a estrutura básica da frase está adquirida e,<br />
por volta dos cinco, seis a<strong>no</strong>s, a criança atingiu um estado significativo<br />
<strong>de</strong> conhecimento sintáctico que lhe permite compreen -<br />
<strong>de</strong>r e produzir frases simples e frases complexas 6 (cf. diálogos<br />
10, 11 e 12). No entanto, há estruturas complexas tardiamente<br />
adquiridas, como é o caso das frases passivas, relativas restritivas<br />
7 e algumas adverbiais. O domínio da compreensão e da<br />
produção espontânea <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> essencialmente da complexida<strong>de</strong><br />
estrutural em questão e, consequentemente, da frequência <strong>de</strong><br />
ocorrência <strong>de</strong>ssas mesmas estruturas <strong>no</strong> meio linguístico em que<br />
a criança convive. Algumas <strong>de</strong>stas estruturas só estão <strong>de</strong>finitivamente<br />
estabilizadas <strong>no</strong> final da puberda<strong>de</strong>.<br />
• Diálogo 11: Mãe e Luís (48 M)<br />
L: O pai foi à ospicina*.<br />
M: O quê? On<strong>de</strong> foi o pai?<br />
L: O pai foi à… à… ospicina porque o carro tem um furo <strong>no</strong> pneu.<br />
*hospital/oficina<br />
• Diálogo 12: Joana (59M) e Paula (60 M)<br />
J: Deixa-me brincar contigo.<br />
P: Não, tou a brincar às casinhas com o Luís.<br />
J: Deixa-me brincar com vocês. Se me <strong>de</strong>ixas, vais à festa dos meus a<strong>no</strong>s.<br />
Obs.: ainda que com alguns erros (ospicina, em vez <strong>de</strong> oficina, <strong>de</strong>ixas em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixares), o discurso<br />
nesta ida<strong>de</strong> já <strong>de</strong>monstra um certo nível <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>.<br />
Aquisições <strong>de</strong> regras<br />
morfológicas<br />
Um outro aspecto importante a consi<strong>de</strong>rar <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da linguagem diz respeito à aquisição <strong>de</strong> regras morfológicas,<br />
essenciais para consumar a concordância 8 entre as<br />
palavras na frase. Nos períodos holofrásico e telegráfico as<br />
palavras produzidas pelas crianças não apresentam marcas <strong>de</strong><br />
género (femini<strong>no</strong>/masculi<strong>no</strong>), ou número (singular/plural), nem<br />
qualquer marca <strong>de</strong> flexão verbal (tempo, pessoa, modo).<br />
À medida que o <strong>de</strong>senvolvimento se processa, a criança começa<br />
a introduzir marcas flexionais <strong>no</strong> discurso e a respeitar as<br />
regras <strong>de</strong> concordância. O final do período telegráfico é caracterizado<br />
pelo aparecimento <strong>de</strong> marcas flexionais <strong>de</strong> género e<br />
número para as categorias <strong>no</strong>minais e por <strong>de</strong>sinências verbais<br />
que marcam pessoa, número, tempo e modo.<br />
6 Frases que envolvem mais do que uma oração e que são formadas através <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação ou <strong>de</strong> subordinação.<br />
7 Encaixe ao centro A rapariga [que eu vi] é bonita ou com foco <strong>no</strong> complemento indirecto O cão [a quem o homem bateu]<br />
é velho.<br />
8 A concordância é um processo através do qual uma palavra toma uma forma particular, em virtu<strong>de</strong> da relação gramatical<br />
entre ela e outro elemento da frase.<br />
21