Linguagem e Comunicação no Jardim-de-Infância
Linguagem e Comunicação no Jardim-de-Infância
Linguagem e Comunicação no Jardim-de-Infância
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Linguagem</strong> e <strong>Comunicação</strong> <strong>no</strong> <strong>Jardim</strong>-<strong>de</strong>-<strong>Infância</strong><br />
Brincar com a língua: <strong>de</strong>senvolver a consciência linguística<br />
A consciência do que é uma palavra implica, por um lado,<br />
a capacida<strong>de</strong> para segmentar uma frase e i<strong>de</strong>ntificar o número<br />
<strong>de</strong> palavras que a compõem e, por outro, a compreensão <strong>de</strong><br />
que as palavras são etiquetas fónicas arbitrárias (ou seja são<br />
sequências <strong>de</strong> sons que <strong>no</strong>meiam algo, mas que não constituem<br />
a própria “coisa”).<br />
A primeira dimensão referida relaciona-se com a capacida<strong>de</strong><br />
para pensar as palavras enquanto unida<strong>de</strong>s linguísticas que<br />
fazem parte <strong>de</strong> frases. Os dados da investigação 30 <strong>de</strong>monstram<br />
que quando pedimos a crianças <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> pré-escolar para contar<br />
o número <strong>de</strong> palavras <strong>de</strong> uma frase, elas consi<strong>de</strong>ram como palavras<br />
os elementos com conteúdo (<strong>no</strong>mes, verbos, adjectivos),<br />
mas não os elementos funcionais (artigos, preposições, etc.).<br />
Em relação à compreensão <strong>de</strong> que as palavras são rótulos<br />
fónicos arbitrários, verifica-se que as crianças em ida<strong>de</strong> pré-<br />
-escolar concebem os <strong>no</strong>mes dos objectos como uma proprieda<strong>de</strong><br />
daqueles e apresentam dificulda<strong>de</strong>s em discriminar o<br />
rótulo verbal dos atributos do objecto <strong>no</strong>meado. Assim, por<br />
exemplo, quando se pe<strong>de</strong> a crianças <strong>de</strong> 4/5 a<strong>no</strong>s para dizer<br />
uma palavra comprida é comum elas <strong>no</strong>mearem objectos ou<br />
animais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dimensão (por exemplo, uma palavra comprida:<br />
girafa). Se lhes pedir para dizerem uma palavra difícil,<br />
elas são capazes <strong>de</strong> indicar uma acção complexa. A partir dos<br />
5/6 a<strong>no</strong>s as crianças começam a associar a dimensão das palavras<br />
à dimensão do enunciado, o que conduz, por vezes, à confusão<br />
entre uma frase e uma palavra. Assim, o tamanho das<br />
palavras passa a ser caracterizado em função da dimensão da<br />
emissão verbal que po<strong>de</strong>, ou não, coincidir com uma palavra<br />
isolada. Só por volta dos 6/7 a<strong>no</strong>s é que as palavras começam<br />
a ser caracterizadas como rótulos que correspon<strong>de</strong>m a coisas,<br />
ganhando, <strong>de</strong>ste modo, alguma auto<strong>no</strong>mia em relação aos referentes<br />
que <strong>no</strong>meiam. Gradualmente, as aprendizagens escolares<br />
começam a interferir <strong>no</strong> conceito infantil <strong>de</strong> palavra e a<br />
partir dos 8 a<strong>no</strong>s começam a surgir <strong>de</strong>finições associadas a<br />
termos gramaticais (um <strong>no</strong>me, um adjectivo, etc.).<br />
A tomada <strong>de</strong> consciência da arbitrarieda<strong>de</strong> do léxico está<br />
associada à capacida<strong>de</strong> para manipular sinónimos, antónimos<br />
ou à compreensão <strong>de</strong> expressões em sentido figurado (metáforas).<br />
Por exemplo, é natural e frequente que as crianças <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong> pré-escolar tenham dificulda<strong>de</strong> em encontrar um sinónimo<br />
<strong>de</strong> uma palavra. Para pensarem em sinónimos, as crianças<br />
têm <strong>de</strong> extrair o significado da palavra e mantê-la em memória<br />
30 Para um conhecimento mais aprofundado <strong>de</strong> alguns estudos realizados consultar Sim-Sim (1998) ou Silva (2003).<br />
61