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TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...

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Esse papel po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhado com o auxílio dos párocos <strong>em</strong> suas<br />

pregações. O autor não aprofunda a contribuição da religião nesse processo <strong>de</strong> convencimento<br />

da população pobre para o trabalho, mas apresentou um indício importante para esta pesquisa:<br />

investigar a possível contribuição da Igreja Católica, através dos vigários e da Or<strong>de</strong>m<br />

Capuchinha, no processo <strong>de</strong> “reor<strong>de</strong>namento do trabalho” <strong>em</strong> Sergipe.<br />

O Presi<strong>de</strong>nte José Martins Fontes, <strong>em</strong> Relatório <strong>de</strong> 1878, mencionou que a escola<br />

po<strong>de</strong>ria também incentivar a valorização do trabalho. Esta <strong>de</strong>ve ser “[...] um t<strong>em</strong>plo on<strong>de</strong> se<br />

rendam cultos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za da intelligência, à magesta<strong>de</strong> do pensamento e ao amor pelo<br />

trabalho”. 268 Esse, provavelmente, tenha sido mais um meio utilizado pelas autorida<strong>de</strong>s para a<br />

construção <strong>de</strong> uma cultura positiva <strong>em</strong> relação ao trabalho, já que durante muito t<strong>em</strong>po esteve<br />

associado à atribuição <strong>de</strong> escravos, consi<strong>de</strong>rados como inferiores.<br />

Sidney Chalhoub, analisando esse período <strong>de</strong> transição do trabalho no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, também constatou que a transformação do trabalhador livre <strong>em</strong> assalariado passava,<br />

além da repressão contínua exercida pelas autorida<strong>de</strong>s policiais e judiciárias, pela construção<br />

<strong>de</strong> uma nova i<strong>de</strong>ologia do trabalho. Era preciso incutir um novo conceito <strong>de</strong> trabalho, como<br />

dignificador do hom<strong>em</strong> e como meio necessário para levar o país à civilização. 269<br />

Em meio à falta <strong>de</strong> braços para a lavoura, a precarieda<strong>de</strong> das estradas e pontes, as<br />

péssimas condições da casa <strong>de</strong> prisão e das ca<strong>de</strong>ias, a insalubrida<strong>de</strong> nas cida<strong>de</strong>s, vilas e<br />

povoados e a insuficiência <strong>de</strong> párocos para aten<strong>de</strong>r as comunida<strong>de</strong>s mais distantes <strong>de</strong>u-se a<br />

atuação <strong>de</strong> frei João Evangelista <strong>de</strong> Monte Marciano. Nessa tessitura, que envolvia uma<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> homens e mulheres comuns, lutando para superar ou adaptar-se da melhor<br />

maneira possível aos probl<strong>em</strong>as do dia-a-dia, frei João Evangelista ajudou a “transformar”,<br />

<strong>em</strong> parte, essa realida<strong>de</strong> ao incutir uma nova visão <strong>em</strong> relação ao trabalho à medida que<br />

organizava os mutirões. Nessa tessitura, os administradores e os proprietários <strong>de</strong> terras<br />

também se aproveitavam do trabalho coletivo realizado nas missões para obter as obras<br />

necessárias às cida<strong>de</strong>s e vilas, a ex<strong>em</strong>plo dos c<strong>em</strong>itérios. Sendo assim, as ações <strong>de</strong> frei João<br />

Evangelista e <strong>de</strong>mais capuchinhos contribuíram para o que <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong> “cruzada<br />

civilizatória” como ver<strong>em</strong>os no capítulo que segue.<br />

268 O Presi<strong>de</strong>nte José Martins Fontes consi<strong>de</strong>ra necessário à criação <strong>de</strong> escolas normais e fazendas e o uso da<br />

doutrina do ensino agrícola teórico e prático nas escolas primárias. Descreveu a situação das escolas: “Escolas<br />

exist<strong>em</strong> na província, on<strong>de</strong> além da falta <strong>de</strong> espaço, <strong>de</strong> ar e <strong>de</strong> luz [...] on<strong>de</strong> não há meza para o professor, quanto<br />

mais um livro para o menino pobre estudar a sua lição.” SERGIPE. Relatório com que o Exmo. Sr. Dr. José<br />

Martins Fontes 1º Vice-Presi<strong>de</strong>nte da Província abriu a 1ª sessão da 22ª legislatura da Ass<strong>em</strong>bleia Provincial <strong>de</strong><br />

Sergipe no dia 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1878. Aracaju. Typ. do Jornal do Aracaju, 1878, p. 13-22-51.<br />

269 CHALHOUB, Sidney. Trabalho, Lar e Botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio <strong>de</strong> Janeiro da belle<br />

époque. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.<br />

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