TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...
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<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes foram, por muito t<strong>em</strong>po, consi<strong>de</strong>rados “preguiçosos” e responsáveis pela<br />
<strong>de</strong>generação da socieda<strong>de</strong>.<br />
Conforme <strong>de</strong>stacou Manoel Luís Salgado Guimarães, no Brasil, a construção da<br />
i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Nação não se <strong>de</strong>u <strong>em</strong> oposição à antiga metrópole. Ao contrário, a nova Nação se<br />
reconhece enquanto continuadora da tarefa civilizadora, iniciada pela colonização portuguesa.<br />
Em 1838, a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), tinha a tarefa <strong>de</strong><br />
apresentar a Nação como filha da civilização europeia e, portanto, her<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> uma cultura<br />
tida como superior, por isso, <strong>em</strong>penhava-se <strong>em</strong> escrever a história brasileira enquanto palco<br />
<strong>de</strong> atuação <strong>de</strong> um Estado iluminado e civilizador. Entretanto, esse projeto não incluía todos.<br />
Ao <strong>de</strong>finir a Nação brasileira enquanto representante da idéia <strong>de</strong> civilização<br />
no Novo Mundo, esta mesma historiografia estará <strong>de</strong>finindo aqueles que<br />
internamente ficarão excluídos <strong>de</strong>ste projeto por não ser<strong>em</strong> portadores da<br />
noção <strong>de</strong> civilização: índios e negros. O conceito <strong>de</strong> nação operado é<br />
<strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente restrito aos brancos, s<strong>em</strong> ter, portanto, aquela abrangência a<br />
que o conceito se propunha no espaço europeu. Construída no campo<br />
limitado da aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> letrados, a Nação brasileira traz consigo forte marca<br />
exclu<strong>de</strong>nte, carregada <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong>preciativas do “outro”, cujo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
reprodução e ação extrapola o momento histórico preciso <strong>de</strong> sua<br />
construção. 276<br />
Para Lilia Moritz Schwarctz, <strong>de</strong>ntro da Revista do IHGB, a questão racial foi<br />
difundida dubiamente, na medida <strong>em</strong> que um projeto <strong>de</strong> centralização nacional implicava<br />
também pensar nos excluídos <strong>de</strong>sse processo, ou seja, negros e indígenas. Com relação à<br />
população negra vigorava uma visão evolucionista, mas <strong>de</strong>terminista, que a consi<strong>de</strong>ra como<br />
“incivilizável”. Já os indígenas eram vistos sob três perspectivas: a positiva e evolucionista; a<br />
religiosa católica; a romântica, representada como símbolo da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional. A<br />
perspectiva evolucionista, combinada com a doutrina católica, colocava a catequese como<br />
solução, pois o índio instruído e adaptado ao trabalho teria condições <strong>de</strong> enquadrar-se ao<br />
processo civilizatório <strong>em</strong> curso. 277<br />
Muitas or<strong>de</strong>ns religiosas foram utilizadas pelo Estado na tarefa <strong>de</strong> “civilizar” o<br />
índio. As Revistas do IHGB, que na maioria abordavam uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>as referentes<br />
à questão indígena, <strong>de</strong>ntre eles, o aproveitamento do índio como força <strong>de</strong> trabalho, enfatiza a<br />
importância das or<strong>de</strong>ns nesse processo. Para Guimarães, os <strong>de</strong>bates sobre a questão indígena,<br />
276<br />
GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Nação e Civilização nos Trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico<br />
Brasileiro e o Projeto <strong>de</strong> uma História Nacional. Estudos Históricos, Rio <strong>de</strong> Janeiro, n.1, 1988, p. 6-7, 11.<br />
277<br />
SCHWARCZ, Lilia Moritz, O Espetáculo das Raças: Cientistas, Instituições e Questão Racial no Brasil –<br />
1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p.111-112.<br />
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