30.04.2013 Views

TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...

TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...

TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O papel da religião nesse período também é visto, pelas autorida<strong>de</strong>s da Província,<br />

como necessárias para educar o povo. Assim, pensava o Chefe da Polícia <strong>em</strong> 1887: “eduque-<br />

se o povo civil e religiosamente e a humanida<strong>de</strong> atingirá, senão a perfeição, por que é<br />

incompatível com a fragilida<strong>de</strong> humana, ao menos a um estado completo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e<br />

tranquilida<strong>de</strong>”. 351 Nessa educação moral e religiosa, combatia-se o jogo, a bebe<strong>de</strong>ira, o ócio e<br />

todos os vícios consi<strong>de</strong>rados pelos capuchinhos como contrários aos preceitos cristãos. O<br />

i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> “bom cristão, bom cidadão”, enfatizado por Pietro Regni, atendia as expectativas das<br />

autorida<strong>de</strong>s não apenas no período <strong>de</strong> catequese do indígena, mas também, nesse período das<br />

missões itinerantes, se compreen<strong>de</strong>rmos os capuchinhos <strong>de</strong>ssa fase, enquanto “porta-vozes”<br />

do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> “civilização” branca nos mol<strong>de</strong>s europeus que a Nação brasileira pretendia se<br />

transformar.<br />

Para Michel <strong>de</strong> Certeau o “cotidiano se inventa com mil maneiras <strong>de</strong> caça não<br />

autorizada”. 352 Desse modo, a missão para a população significava muito mais do que as<br />

autorida<strong>de</strong>s civis e eclesiásticas <strong>de</strong>sejavam. Era um momento também da festa, do encontro<br />

entre amigos, das relações <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>s, da construção <strong>de</strong> obras para o b<strong>em</strong> comum e<br />

porque não dizer, também era a hora da confissão, do arrependimento, do batizado, do<br />

casamento tão importantes para as pessoas que acreditavam nessas práticas como necessárias<br />

para viver <strong>de</strong> acordo com os preceitos cristãos. A população “apropriava-se”, astuciosamente,<br />

das pregações a seu modo e os ensinamentos dos capuchinhos “representavam” muito mais<br />

que os ensinamentos espirituais, visto que atendia as necessida<strong>de</strong>s da população.<br />

Mais uma vez a população sergipana se preparava para receber o velho<br />

missionário <strong>de</strong> costumes rígido e autoritário. Era 26 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1901, quando <strong>em</strong> Lagarto<br />

frei João Evangelista, há essa altura já com as forças físicas esgotadas, contou com a ajuda <strong>de</strong><br />

frei João Baptista <strong>de</strong> Cíngoli. Pregaram para uma multidão estimada <strong>de</strong> 14 mil pessoas.<br />

Idosos, mulheres, homens e crianças <strong>de</strong> várias localida<strong>de</strong>s carregavam pedras para a<br />

construção dos corredores da Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora do Rosário. Os presos também<br />

receberam a visita dos missionários. Encerrada as ativida<strong>de</strong>s na “terra do fumo” seguiram<br />

para a Vila <strong>de</strong> Campos (atual Tobias Barreto). Em mutirão <strong>de</strong> penitência as pessoas com<br />

picaretas e enxadas cavaram a terra seca transformando o lugar vazio num açu<strong>de</strong>. Era 23 <strong>de</strong><br />

fevereiro <strong>de</strong> 1901, quando frei João Evangelista finaliza as suas missões <strong>em</strong> solo sergipano. 353<br />

351<br />

SERGIPE, Relatório do Presi<strong>de</strong>nte, Olympio M. dos Santos Vital, 1888, op. cit., p. 2.<br />

352<br />

CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. A Invenção do Cotidiano: artes <strong>de</strong> fazer. Tradução <strong>de</strong> Ephraim Ferreira Alves.<br />

Petrópolis, RJ: Vozes, 1994, p. 38.<br />

353<br />

AHNSP – Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> M<strong>em</strong>órias <strong>de</strong> Frei João Evangelista <strong>de</strong> Monte Marciano. Caixa Ca – 17, p. 82-83.<br />

128

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!