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TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...

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ser humano. A Igreja Católica se colocava ao serviço das elites à medida que enfatizava <strong>em</strong><br />

sua pregação a importância do trabalho para a salvação da alma. De acordo com preceitos do<br />

Cristianismo, o ser humano <strong>de</strong>veria reservar o dia do Senhor, o domingo, para as orações e<br />

para o <strong>de</strong>scanso. Outro indício <strong>de</strong> que a ociosida<strong>de</strong> não é b<strong>em</strong> vista pela Igreja apresenta-se no<br />

fato <strong>de</strong> a “preguiça” enquadrar-se na relação dos sete pecados capitais. Nesse sentido, a<br />

“aversão ao trabalho; o ócio e a vadiag<strong>em</strong>” 308 são consi<strong>de</strong>rados pecados.<br />

Os missionários capuchinhos incentivavam a mudança das feiras realizadas aos<br />

domingos. Tal fato ocorreu no povoado Saco do Ribeiro, atualmente Ribeirópolis, quando <strong>em</strong><br />

1916, após a realização <strong>de</strong> uma missão, a pedido dos capuchinhos Caetano <strong>de</strong> San Leo e<br />

Agostinho <strong>de</strong> Loro, a feira foi transferida para a segunda. 309 Em Geru, <strong>em</strong> 1903, os<br />

capuchinhos também pregaram contra a feira aos domingos. 310 A mudança da feira <strong>de</strong>monstra<br />

a influência das ações dos capuchinhos no cotidiano da comunida<strong>de</strong>. Mas a mudança no dia<br />

<strong>de</strong> realização da feira não era a única interferência na vida dos participantes da missão. Sobre<br />

a “interferência” capuchinha na relação do hom<strong>em</strong> com o trabalho, Sousa assim pronuncia:<br />

Os missionários capuchinhos usavam <strong>em</strong> suas prédicas as metáforas “céu” e<br />

do “inferno” para pensar o que seria “graça” e “<strong>de</strong>sgraça”. O pecador<br />

original estava no discurso <strong>de</strong> todos missionários como uma marca presente<br />

no humano, na vida e no <strong>de</strong>stino nosso. Todavia, havia, também, a<br />

possiblida<strong>de</strong> <strong>de</strong> romper esse mundo com sacrifício e trabalho. “Carregar<br />

pedra para um açu<strong>de</strong>” e “construir uma igreja”, por ex<strong>em</strong>plo, eram trabalhos<br />

positivos aos olhos dos Capuchinhos. Edificar uma igreja era um trabalho<br />

honesto e cheio <strong>de</strong> “graça”. Da mesma forma, o pai <strong>de</strong> família ao trabalhar<br />

<strong>em</strong> sua roça para o sustento da família, estaria <strong>em</strong> “estado <strong>de</strong> graça”. O<br />

contrário, o “estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgraça” seria a vagabundag<strong>em</strong>, a violência, o<br />

amasiar-se. Essa forma <strong>de</strong> pregar fazia parte do discurso do capuchinho Frei<br />

Leo Caetano <strong>de</strong> S Leo, por ex<strong>em</strong>plo. 311<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valorização do trabalho <strong>em</strong> algo positivo, não fazia parte apenas das<br />

prédicas capuchinha. Na década <strong>de</strong> 50 do século XIX, a valorização do trabalho, conforme a<br />

doutrina cristã era t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> artigos na imprensa católica baiana e sergipana. Para o Padre Lino<br />

Reginaldo Alvim, a obrigação do hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> trabalhar é <strong>de</strong>sígnio divino e <strong>de</strong> muita<br />

importância para o <strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong>. D. Romualdo Seixas também <strong>de</strong>stacou que<br />

308<br />

HOUAISS, op. cit.<br />

309<br />

SOUSA, Antônio Lindvaldo. O Eclipse <strong>de</strong> um Farol: contribuição aos estudos sobre a romanização da Igreja<br />

Católica no Brasil (1911-1917). São Cristóvão: Edit. UFS: Aracaju: Fund. Oviêdo Teixeira, 2008, p.189.<br />

310<br />

<strong>CUNHA</strong>, Tatiane Oliveira da, “Espaços e Culturas <strong>em</strong> transformações <strong>em</strong> nome <strong>de</strong> Cristo...:” Frei Caetano<br />

<strong>de</strong> San Leo <strong>em</strong> missões populares <strong>em</strong> Sergipe (1901-1911). Monografia <strong>de</strong> Conclusão do Curso <strong>de</strong><br />

Especialização <strong>em</strong> Ciências da Religião. São Cristóvão/SE: UFS, 2008, p.57.<br />

311<br />

SOUSA, 2008, op. cit., p.185.<br />

112

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