TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...
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agra<strong>de</strong>cimento a São José, pela chegada da chuva, o velho provi<strong>de</strong>nciava tudo para que o<br />
“acompanhamento” fosse maior do que o dissera.<br />
Com efeito, mostrava-se incansável, preparando tudo para a festa. Foi a<br />
Lagarto fazer provisão <strong>de</strong> pólvora, <strong>de</strong> foguetes, <strong>de</strong> bebidas. Comprou roupas<br />
novas para a família e enfeites vários para a imag<strong>em</strong> do Santo. Escolheu, a<br />
<strong>de</strong>do, os mais <strong>de</strong>st<strong>em</strong>idos bacamartistas das redon<strong>de</strong>zas. Chamou as<br />
mulheres que melhor sabiam tirar as ladainhas. 334<br />
O discurso assustador dos capuchinhos ressaltado no primeiro capítulo <strong>de</strong>ste<br />
trabalho também foi mencionado por Adalberto Fonseca. Este m<strong>em</strong>orialista também<br />
mencionou que a população <strong>de</strong> Campo do Brito/Se acreditava na importância das prédicas<br />
capuchinhas para promover a chegada da chuva.<br />
[...] o povo era convocado pelo Padre para uma Santa Missão, na qual<br />
sucessivamente os fra<strong>de</strong>s faziam referência a uma figura fantasmagórica e<br />
terrível, que tudo <strong>de</strong>struía – a Besta-Fera. A alma simples do povo foi sendo<br />
impregnada daquela figura com que os fra<strong>de</strong>s amedrontavam as crianças.<br />
Tinham suas razões. E foi solicitado a todos que como penitência, foss<strong>em</strong><br />
limpar os tanques que, agora s<strong>em</strong> água, eram imensas cacimbas cheias <strong>de</strong><br />
lama. E todos para lá se movimentaram, diversos dias, até que os<br />
tanques ficaram limpos para receber<strong>em</strong> as chuvas que certamente logo<br />
viriam – por efeito das santas-missões, das orações, e da dominação pelo<br />
Anjo Gabriel daquela terrível Besta-Fera. [...] 335 [grifo nosso]<br />
Em t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> seca, a água era o b<strong>em</strong> mais precioso para a população que sofria<br />
com escassez <strong>de</strong>sse recurso. Mas quando a promessa não fora atendida, e as missões também<br />
não fizeram o efeito esperado, conforme <strong>de</strong>monstrou Adalberto Fonseca, a saída era<br />
abandonar o pouco que restara e migrar <strong>em</strong> busca da sobrevivência assim como fez a família<br />
Corumba, do romance <strong>de</strong> Amando Fontes, como vimos no segundo capítulo.<br />
A construção dos reservatórios <strong>de</strong> água coletivo nas missões itinerantes<br />
amenizava <strong>em</strong> parte o sofrimento da seca. Em nome <strong>de</strong> Cristo, da salvação eterna, as pessoas<br />
faziam penitência, rezavam e trabalhavam. Era sob a “direção do hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus”, que as<br />
práticas religiosas intercalavam-se com trabalhos <strong>de</strong> beneficência para a comunida<strong>de</strong>. E do<br />
trabalho penitencial participava a comunida<strong>de</strong> fazendo surgir uma igreja, uma capela, um<br />
c<strong>em</strong>itério, um tanque. Restauravam-se prédios e praças públicas, melhoravam a estrutura das<br />
334 FONTES, op. cit., p.4.<br />
335 FONSECA, Adalberto. História <strong>de</strong> Campo do Brito. Curitiba: Artes Gráficas e Editora Unificado, 1989, p.<br />
82.<br />
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