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TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...

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físicos e sociais da vila <strong>de</strong> Lagarto, <strong>de</strong>screveu a situação vivenciada pela população,<br />

apresentando s<strong>em</strong>elhanças ao que fora <strong>de</strong>stacado <strong>de</strong> maneira geral pelos inspetores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

A administração da Vila [Lagarto] pouco tinha a fazer. Com ruas que não<br />

obe<strong>de</strong>ciam a qualquer princípio <strong>de</strong> estética, a limpeza pública era realizada<br />

pelos moradores, que varriam as frentes das casas jogando o lixo no meio<br />

das ruas on<strong>de</strong> era queimado. A iluminação pública constava apenas <strong>de</strong><br />

algumas velas <strong>de</strong> sebo <strong>de</strong> boi, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma vasilha <strong>de</strong> barro chamada <strong>de</strong><br />

„alguidar‟. As fontes <strong>de</strong> água eram poucas e <strong>de</strong>las cuidavam os próprios<br />

donos. Estradas não existiam além das picadas abertas pelos viajantes, as<br />

quais se tornavam trilhas <strong>de</strong>ntro da selva e iam se alargando <strong>de</strong>vido o uso.<br />

As casas eram construídas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e taipa. Não existiam calçamentos. 195<br />

As casas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e taipa não eram habitações apenas da população <strong>de</strong> Lagarto.<br />

A maioria da população sergipana, inclusive nas cida<strong>de</strong>s também moravam <strong>em</strong> construções<br />

<strong>de</strong>sse tipo. A construção <strong>de</strong>ssas casas e <strong>em</strong> também <strong>em</strong> outras ativida<strong>de</strong>s, a ex<strong>em</strong>plo,<br />

s<strong>em</strong>eaduras, limpas e colheitas são ativida<strong>de</strong>s realizadas pela população através dos<br />

mutirões. 196 Para Hélio Galvão “as populações rurais do Brasil praticam um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

trabalho não r<strong>em</strong>unerado, que constitui excelente prática <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>. Prática <strong>de</strong> sadio e<br />

espontâneo cooperativismo, nascido do espírito <strong>de</strong> vizinhança e <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> nas<br />

necessida<strong>de</strong>s mais pr<strong>em</strong>entes”. 197 No dia escolhido para a realização do mutirão toda a<br />

vizinhança, parentes e amigos trabalhavam coletivamente para ajudar o anfitrião na realização<br />

do trabalho. Em meio ao trabalho não faltava muita comida, aguar<strong>de</strong>nte (a cachaça) e música.<br />

Na maioria dos núcleos <strong>de</strong> povoamentos <strong>de</strong> Sergipe à precarieda<strong>de</strong> na higiene dos<br />

espaços era uma das causas apontada pelos Presi<strong>de</strong>ntes da Província para a proliferação <strong>de</strong><br />

doenças. Dentre as doenças, <strong>de</strong>stacou-se a varíola. Com base no mapa <strong>de</strong> vacinação <strong>de</strong> 1871,<br />

observa-se que apenas 557 pessoas foram vacinadas contra a varíola, sendo muitas <strong>de</strong>las <strong>de</strong><br />

Estância, on<strong>de</strong> a doença havia atingido cerca <strong>de</strong> 200 pessoas e matado 13 <strong>de</strong>las. O Inspetor da<br />

Saú<strong>de</strong> Pública, Francisco Sampaio <strong>de</strong>stacou que das “localida<strong>de</strong>s, providas aliás <strong>de</strong><br />

vaccinadores [...] <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser-me enviados os mappas, allegando uns, que, á <strong>de</strong>speito <strong>de</strong><br />

seus esforços, [...], ninguém se lhes apresentou para a vaccina; tamanha é a repugnancia, que<br />

195<br />

FONSECA, Adalberto. História <strong>de</strong> Lagarto. Aracaju, Se, 2002, p.58.<br />

196<br />

Clovis Cal<strong>de</strong>ira ao discutir a orig<strong>em</strong> do mutirão concorda com Hélio Galvão que não se po<strong>de</strong> generalizar a<br />

orig<strong>em</strong> <strong>de</strong>sse costume <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s coletivas solidárias como prática exclusiva <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado povo, a<br />

ex<strong>em</strong>plo dos indígenas ou africanos como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> alguns pesquisadores do assunto. Para Cal<strong>de</strong>ira “dava-se<br />

orig<strong>em</strong> ameríndia ou africana ao mutirão, quando tudo o que se po<strong>de</strong> admitir, neste particular, é que só <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>terminados casos houve maior influência cultural <strong>de</strong>ste ou daquele povo no costume”. CALDEIRA, Clovis.<br />

Mutirão: formas <strong>de</strong> ajuda mútua no meio rural. São Paulo. Companhia editora Nacional. 1956, p.23.<br />

197<br />

GALVÃO, Hélio. O Mutirão no Nor<strong>de</strong>ste. Rio <strong>de</strong> Janeiro. Edições SIA. 1959, p.23.<br />

75

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