30.04.2013 Views

TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...

TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...

TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Engenho. Até as duas menores s<strong>em</strong>pre faziam alguma coisa, ajudando <strong>em</strong><br />

casa ou na roça.<br />

Se os filhos assim procediam, os pais não tinham um minuto <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso.<br />

Geraldo carreava do primeiro ao último dia do verão; e durante o inverno<br />

não largava a enxada, ora limpando os canaviais da patroa, ora plantando<br />

para si quatro ou cinco tarefas <strong>de</strong> caiana. Josefa, da madrugada à boca da<br />

noite, não parava. Cosia, lavava, mexia nas panelas, amanhava a terra nos<br />

roçados, cortava cana <strong>de</strong> <strong>em</strong>preitada.<br />

Mas, o pior <strong>de</strong> tudo era que, ao cabo <strong>de</strong> tanto esforço, <strong>de</strong> tanta energia<br />

<strong>de</strong>spendida, só conseguiram reunir umas migalhas, que as <strong>de</strong>spesas<br />

ordinárias consumiam. 255<br />

Esse trecho <strong>de</strong>monstra o trabalho árduo dos homens e mulheres pobres e livres<br />

que apesar <strong>de</strong> trabalhar<strong>em</strong> muito nos engenhos ganhavam pouco. Essa situação vivenciada<br />

pela família Corumba no romance, não fazia parte do cotidiano <strong>de</strong> todos os sergipanos do<br />

final do século XIX e primeiras décadas do século XX, pois, segundo Passos Subrinho, boa<br />

parte da população livre e pobre preferia sobreviver da caça, da pesca a ven<strong>de</strong>r<strong>em</strong> sua força <strong>de</strong><br />

trabalho aos proprietários <strong>de</strong> engenhos como fizeram os Corumbas.<br />

Passados <strong>de</strong>zessete anos <strong>de</strong> labuta no engenho, a família migra pela segunda vez,<br />

agora para a capital, Aracaju, <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> trabalho nas fábricas têxteis. “Ven<strong>de</strong>ram as<br />

galinhas, os dois cavalos, a roça, há pouco replantada. Como ninguém quisesse lhes comprar a<br />

casinha, que com suas próprias mãos haviam erguido, <strong>de</strong>ram-na para morar a uns<br />

compadres”. 256 A família corumba representava a migração interna <strong>em</strong> Sergipe, conforme o<br />

romancista, os retirantes que se <strong>de</strong>stinavam as cida<strong>de</strong>s “eram praieiros <strong>de</strong> S. Cristóvão e<br />

Itaporanga; camponeses do Vaza-Barris, da Cotinguiba; sertanejos <strong>de</strong> Itabaiana e das<br />

Caatingas – que, num dia ou noutro, tangidos pela mais áspera miséria, haviam <strong>de</strong>sertado <strong>de</strong><br />

seus lares, na esperança <strong>de</strong> uma vida melhor pelas cida<strong>de</strong>s ...”. 257<br />

Em Sergipe, no final do século XIX e primeiras décadas do século XX, boa parte<br />

da população do campo, a ex<strong>em</strong>plo, da família corumba migravam para a Capital com o<br />

objetivo <strong>de</strong> trabalhar, principalmente, nas fábricas têxteis. A Sergipe Industrial <strong>de</strong> fiação e<br />

tecidos que fora inaugurada <strong>em</strong> 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1884 possui operários que trabalham na<br />

produção <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão lisas e trançadas e novelos <strong>de</strong> fios. Conta ainda com duas<br />

fábricas <strong>de</strong> sabão, uma na capital e outra <strong>em</strong> Estância, uma fábrica <strong>de</strong> óleos <strong>em</strong> Villa Nova, e<br />

255 I<strong>de</strong>m, p.9.<br />

256 Ibi<strong>de</strong>m, p.11.<br />

257 Ibi<strong>de</strong>m, p.19.<br />

94

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!