TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...
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engenhos sergipanos possuíam uma pequena extensão territorial, e, diferent<strong>em</strong>ente do que<br />
prega a historiografia nacional não houve monopolização das terras pela camada social dos<br />
senhores <strong>de</strong> engenhos e lavradores <strong>de</strong> cana. Isso se <strong>de</strong>veu, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte, ao início tardio da<br />
lavoura da cana <strong>em</strong> Sergipe, e os senhores não coincidiam com os antigos sesmeiros do início<br />
da colonização. Boa parte da historiografia sobre a estrutura fundiária nor<strong>de</strong>stina, <strong>em</strong> meados<br />
do século XIX, aponta para o esgotamento <strong>de</strong> terras livres e o crescimento da população livre<br />
s<strong>em</strong> acesso à proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> terras. Nessa situação, a transição do trabalho escravo para o<br />
trabalho livre se dá <strong>de</strong> forma tranquila e com pequenos custos, uma vez que os trabalhadores<br />
livres foram tomando os lugares <strong>de</strong>ixados pela <strong>de</strong>clinante população escrava. 165<br />
No entanto, o autor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a tese <strong>de</strong> que, pelo menos para o caso <strong>de</strong> Sergipe, há<br />
fortes indícios <strong>de</strong> que os senhores <strong>de</strong> engenho não possuíam o monopólio das terras<br />
agricultáveis da Zona da Mata, pelo contrário, possuíam uma pequena parcela da mesma,<br />
possivelmente das terras mais férteis. Enquanto isso, as terras menos férteis foram utilizadas<br />
para a agricultura <strong>de</strong> subsistência e pecuária on<strong>de</strong> sobrevivia a maior parte da população livre,<br />
ocupando terras s<strong>em</strong> interesse comercial, subsistindo com a exploração do extrativismo<br />
animal e vegetal. Assim, compreen<strong>de</strong>-se porque, <strong>em</strong> meio ao processo <strong>de</strong> transição da mão-<br />
<strong>de</strong>-obra escrava para a livre, os senhores <strong>de</strong> engenho afirmavam a existência <strong>de</strong> abundante<br />
mão-<strong>de</strong>-obra livre e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, reclamavam da escassez <strong>de</strong> “braços” para a gran<strong>de</strong><br />
lavoura. Nesse contexto, os proprietários <strong>de</strong> terras <strong>em</strong> Sergipe exigiam das autorida<strong>de</strong>s a<br />
criação <strong>de</strong> leis que constrangess<strong>em</strong> a população livre ao trabalho <strong>em</strong> suas terras. 166 Como<br />
ver<strong>em</strong>os adiante o Estado usou <strong>de</strong> meios coercitivos para obrigar essa população a trabalhar<br />
na gran<strong>de</strong> lavoura. No entanto, essa população relutou muito a aceitar tal condição, o principal<br />
motivo estaria na forma <strong>de</strong> sobrevivência fácil que essa população encontrava.<br />
2.2. População Livre e Escrava<br />
No século XIX, Sergipe possuía na composição social índios, negros, europeus e<br />
seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes que formavam uma população livre e escrava distribuída com suas<br />
especificida<strong>de</strong>s, por todas as regiões da Província. Em meio há essa heterogeneida<strong>de</strong> cultural,<br />
165 I<strong>de</strong>m, p.73.<br />
166 Ibi<strong>de</strong>m, p.73-74.<br />
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