TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...
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se gran<strong>de</strong> importância ao trabalho como medida para auxiliar na regeneração do preso. As<br />
oficinas <strong>de</strong> trabalho nas casas <strong>de</strong> prisão eram utilizadas na Europa e nos Estados Unidos <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o século XVIII. Ao estudar a primeira penitenciária da Bahia, <strong>de</strong>nominada Casa <strong>de</strong> Prisão<br />
com Trabalho, no período <strong>de</strong> 1833 a 1865, Cláudia Moraes Trinda<strong>de</strong> <strong>de</strong>stacou que nesse<br />
período, dois mo<strong>de</strong>los norte-americanos: o sist<strong>em</strong>a da Pensilvânia e o <strong>de</strong> Auburn serviam <strong>de</strong><br />
base aos especialistas <strong>em</strong> ciência penal no Brasil. Ambos eram baseados no trabalho, na<br />
religião e no isolamento do prisioneiro. Antes da reforma do mo<strong>de</strong>lo prisional, a ca<strong>de</strong>ia não<br />
tinha o objetivo <strong>de</strong> reabilitação do prisioneiro, n<strong>em</strong> havia a preocupação com a higiene e a<br />
separação dos presos. As ca<strong>de</strong>ias eram tidas como lugares insalubres e propícios para a<br />
proliferação <strong>de</strong> doenças. Médicos, advogados, além <strong>de</strong> engenheiros, estiveram presentes na<br />
questão pública durante o século XIX e, com a reforma prisional, não foi diferente. 215<br />
Em Sergipe, a realida<strong>de</strong> da casa <strong>de</strong> prisão da capital, como <strong>de</strong>screveu o<br />
administrador da Província, é <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a precarieda<strong>de</strong> no tocante às questões higiênicas e às<br />
condições físicas, o que contrariava as propostas <strong>de</strong> “civilização”. A situação não era diferente<br />
nas ca<strong>de</strong>ias municipais, localizadas no interior, pois a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reparos nessas<br />
instalações aparecia constant<strong>em</strong>ente nos relatórios dos Presi<strong>de</strong>ntes da Província. No entanto,<br />
esses discursos também apresentavam o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>, com a construção<br />
<strong>de</strong> uma casa <strong>de</strong> prisão que tivesse condições <strong>de</strong> transformar o prisioneiro num hom<strong>em</strong> com<br />
uma profissão garantida, após o seu retorno ao convívio social.<br />
Sergipe contava <strong>em</strong> 1874, com 22 <strong>de</strong>legacias e 43 sub<strong>de</strong>legacias, 8 comarcas e 22<br />
termos. Devido a pouca quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> praças, apenas 193 para toda a Província, o Presi<strong>de</strong>nte<br />
sugeriu a utilização <strong>de</strong> homens pobres e honestos, <strong>de</strong> suas respectivas localida<strong>de</strong>s, para fazer<br />
parte do corpo <strong>de</strong> polícia. Ainda nesse relatório, o Presi<strong>de</strong>nte justificou a criminalida<strong>de</strong> com<br />
as seguintes palavras: “é s<strong>em</strong>pre o hom<strong>em</strong> perseguido pela tentação da ociosida<strong>de</strong> ou levado<br />
pela cegueira da ignorância, ou ainda arrastado pela perversida<strong>de</strong> do instincto que aqui, como<br />
<strong>em</strong> toda a parte, traz <strong>em</strong> perigo a segurança individual e <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>”. 216 Afirmativa que<br />
<strong>de</strong>stacou a população pobre e livre como ociosa e, portanto, com maior propensão ao crime.<br />
Somados aos ociosos, o Presi<strong>de</strong>nte acusava <strong>de</strong> ladrões os escravos que viviam nos quilombos<br />
e reclamava da falta <strong>de</strong> homens para combater seus integrantes.<br />
215<br />
TRIN<strong>DA</strong>DE, Cláudia Moraes. A Casa <strong>de</strong> Prisão com Trabalho da Bahia (1833-1865). Dissertação <strong>em</strong><br />
História Social da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Bahia. 2007, p.10, 22-26. A influência da Igreja nos sist<strong>em</strong>as<br />
penitenciários não po<strong>de</strong> ser negligenciada, visto que, o termo penitenciário foi originalmente usado pela Igreja.<br />
O car<strong>de</strong>al penitenciário era o eclesiástico responsável pela aplicação da penitência ou dos castigos dos religiosos.<br />
A palavra penitenciária v<strong>em</strong> da i<strong>de</strong>ia cristã <strong>de</strong> pagar ou fazer penitência para se redimir os pecados [...],p. 47-50.<br />
216<br />
SERGIPE. Relatório do Presi<strong>de</strong>nte da Província Antonio dos Passos Miranda, 1874, op. cit., p. 4.<br />
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