TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...
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a partir <strong>de</strong> 1840, estão ligados a aspectos <strong>de</strong> natureza econômica, principalmente, no tocante<br />
ao probl<strong>em</strong>a da mão-<strong>de</strong>-obra. O el<strong>em</strong>ento indígena era uma opção para substituir a escravidão<br />
negra que já apontava sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência. Mas o papel central era do Estado que, <strong>em</strong>bora<br />
não negando a importância das or<strong>de</strong>ns religiosas, tentava preservar seu espaço <strong>de</strong> controle<br />
sobre o <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho. 278<br />
No século XIX, verifica-se que existiam diferentes anseios que caminhavam na<br />
tentativa <strong>de</strong> “civilizar” a Nação brasileira, a ex<strong>em</strong>plo dos protestantes 279 e das elites político-<br />
administrativas com as políticas higienistas e médicas. Nesse contexto, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar<br />
que os capuchinhos, porta-vozes do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> “civilização” europeu, po<strong>de</strong>m ser compreendidos<br />
como “agentes” da “civilização” na Nação <strong>em</strong> formação, visto que, <strong>em</strong> suas pregações<br />
tratavam <strong>de</strong> questões morais e da valorização do trabalho. De acordo com Pietro Regni havia<br />
[...] uma convicção mais firme do Governo Imperial quanto a importância da<br />
obra dos missionários italianos, consi<strong>de</strong>rados como o mais idôneo<br />
instrumento <strong>de</strong> atuação no plano <strong>de</strong> catequese e “civilização” dos indígenas e<br />
<strong>de</strong> ajuda ao clero local, no processo <strong>de</strong> formação religiosa e civil <strong>de</strong> nossa<br />
gente. As autorida<strong>de</strong>s estavam vivamente interessadas neste sentido,<br />
persuadidos da valida<strong>de</strong> do princípio: “Bom cristão, bom cidadão”. 280<br />
Os termos “civilização” e “progresso” foram consi<strong>de</strong>rados como mo<strong>de</strong>los<br />
universais. Na perspectiva <strong>de</strong>sses mo<strong>de</strong>los, <strong>em</strong> todas as partes do mundo a cultura teria se<br />
<strong>de</strong>senvolvido <strong>em</strong> etapas sucessivas, caracterizados por organizações econômicas e sociais<br />
específicas. Esses estágios foram compreendidos como únicos e obrigatórios, visto que toda a<br />
humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria passar por eles, segundo a visão dos evolucionistas sociais. 281 Nesse<br />
sentido, “civilização e progresso” seriam fases que o Brasil <strong>de</strong>veria atingir para chegar ao<br />
nível da Europa, tida como padrão civilizatório, conforme as teorias da época.<br />
O estágio <strong>de</strong> “civilização” passava pela i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> perfeição humana, on<strong>de</strong> o<br />
progresso técnico e os arranjos organizacionais garantiam um elevado padrão <strong>de</strong> vida à<br />
278<br />
GUIMARÃES, op. cit., p. 25.<br />
279<br />
De acordo com Lyndon <strong>de</strong> Araújo Santos os protestantes tinham um projeto para civilizar a Nação brasileira a<br />
partir <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> hom<strong>em</strong> e mulher que fosse o mesmo <strong>em</strong> qualquer lugar do mundo. Para tanto, os discursos<br />
<strong>de</strong> civilização, higiene, abstenção <strong>de</strong> vícios, saú<strong>de</strong>, códigos <strong>de</strong> postura, trabalho, produção e intelectualida<strong>de</strong>,<br />
estavam <strong>em</strong> sintonia com o discurso das políticas higienistas e médicas, dos códigos <strong>de</strong> posturas municipais e<br />
das reformas urbanas visando a limpeza pública. SANTOS, Lyndon <strong>de</strong> Araújo. Os novos centros do sagrado: os<br />
sentidos da protestantização. In: As outras faces do sagrado: protestantismo e cultura na Primeira República<br />
Brasileira. São Luís: Edufma/ São Paulo: Ed. ABHR, 2006, p. 176.<br />
280<br />
REGNI, Pietro Vittorino. Os Capuchinhos na Bahia: uma contribuição para História da Igreja no Brasil.<br />
Volume II. Trad. Agatângelo <strong>de</strong> Crato (Frei), Salvador: Impressão Gráfica Editora, 1988, p.349.<br />
281<br />
SCHWARCTZ, op. cit., p.57-58.<br />
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