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TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...

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3.1.“Navegando com a Nação rumo à Civilização!”<br />

Estão a terminar, segundo me consta, os estudos <strong>de</strong>finitivos concernentes ao<br />

traçado da ferrovia , á construir-se, <strong>de</strong> Aracajú a Simão – Dias, com um<br />

ramal <strong>de</strong> Laranjeiras á Capela. É <strong>de</strong> confiar, pois, que <strong>em</strong> breve, satisfeita<br />

uma das mais antigas e legitimas aspirações <strong>de</strong> Sergipe, o silvo civilisador da<br />

locomotiva echoará <strong>em</strong> suas florestas, annunciando uma éra auspiciosa para<br />

este bello e esperançoso torrão. 272<br />

Esse trecho retirado do relatório <strong>de</strong> José Pyres do Nascimento, 1883, coloca a<br />

ferrovia como símbolo do progresso e da civilização, possibilitando agilida<strong>de</strong> no transporte<br />

dos principais produtos <strong>de</strong> exportação, por cortar as zonas açucareira e algodoeira. No<br />

entanto, passados quatorze anos, <strong>em</strong> 1897, Martinho da Silveira Garcez <strong>de</strong>stacou que Sergipe<br />

ainda não possuía nenhuma ferrovia funcionando e que a obra da ferrovia Aracaju a Simão<br />

Dias estava parada. E fez um questionamento: “Que fazer? Cruzar os braços como o índio no<br />

fundo da sua igára e entregarmos tão importante factor <strong>de</strong> nosso progresso as correntes do<br />

acaso e do futuro? Não é próprio <strong>de</strong> seres intelligentes. [...]”. 273<br />

As autorida<strong>de</strong>s almejavam outras obras, a ex<strong>em</strong>plo, do teatro, do telégrafo, 274 dos<br />

engenhos centrais, da canalização da água, da iluminação pública, que colocass<strong>em</strong> Sergipe no<br />

rol da tão sonhada “civilização”. 275 Em contrapartida, nesse mesmo fragmento, as palavras do<br />

Presi<strong>de</strong>nte revelam a visão da elite sobre o indígena, ao <strong>de</strong>stacar que as autorida<strong>de</strong>s não<br />

<strong>de</strong>veriam cruzar os braços, como faziam os índios, que viviam <strong>de</strong>scansados <strong>em</strong> suas re<strong>de</strong>s.<br />

Essa fala é um indício <strong>de</strong> que a elite não compreendia o modo indígena <strong>de</strong> viver,<br />

consi<strong>de</strong>rando-os como “ociosos” e “incivilizados”. Assim, tanto índios, como negros e seus<br />

272 SERGIPE. Fala com que o Exmo. Sr. Presi<strong>de</strong>nte Dr. José Pyres do Nascimento abriu a 2ª sessão da 24ª<br />

Legislatura da Ass<strong>em</strong>bleia Provincial <strong>de</strong> Sergipe <strong>em</strong> 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1883. Aracaju. Typ. do Jornal <strong>de</strong> Sergipe.<br />

1883, p.24-25.<br />

273 SERGIPE. Mensag<strong>em</strong> dirigida a Ass<strong>em</strong>bleia Legislativa, pelo Presi<strong>de</strong>nte do Estado Dr. Martinho Garcez, por<br />

ocasião da abertura da sessão ordinária <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1897. Aracaju. Imprensa Oficial. 1897, p.39.<br />

274 Em 24 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1874, o telégrafo, sinal <strong>de</strong> progresso na comunicação foi inaugurado. O engenheiro<br />

afirmou: “ligada a Bahia está [a Província <strong>de</strong> Sergipe] ligada a todas as partes do mundo.” SERGIPE. Relatório<br />

do Presi<strong>de</strong>nte da Província, Dr. José Martins Fontes, 1877, op. cit., p.73.<br />

275 Norbert Elias explica que o conceito <strong>de</strong> civilização expressa à consciência que o Oci<strong>de</strong>nte (Europa) t<strong>em</strong> <strong>de</strong> si<br />

mesmo. Ele resume tudo <strong>em</strong> que a socieda<strong>de</strong> europeia, principalmente, franceses e ingleses, dos últimos dois ou<br />

três séculos se julga superior a socieda<strong>de</strong>s mais antigas ou a socieda<strong>de</strong>s cont<strong>em</strong>porâneas consi<strong>de</strong>radas “mais<br />

primitivas”. Através da palavra civilização a socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal procura <strong>de</strong>screver o que lhe orgulha: o nível <strong>de</strong><br />

sua tecnologia, a natureza <strong>de</strong> suas maneiras, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua cultura científica ou sua visão <strong>de</strong> mundo,<br />

e muito mais, p.23-24. ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador; tradução, Ruy Jungman; revisão e<br />

apresentação, Renato Janine Ribeiro – Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994. 2v.<br />

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