TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...
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afluíam interesses diversos, que proporcionavam uma relação conflituosa, principalmente<br />
entre os proprietários <strong>de</strong> terras e a maioria da população pobre e livre.<br />
Para Luiz Felipe <strong>de</strong> Alencastro houve uma mudança <strong>de</strong> postura no Brasil <strong>em</strong><br />
relação ao indígena como mão-<strong>de</strong>-obra. Durante o período colonial havia uma “bestialização”<br />
dos índios visto como seres ferozes que impediam a expansão da fronteira agropastoril. Tal<br />
situação mudou <strong>em</strong> meados do século XVIII, sob a influência da política civilizatória<br />
pombalina, que reabilitou o indígena americano integrando-o como mão-<strong>de</strong>-obra<br />
compl<strong>em</strong>entar ao escravo africano. 167<br />
Beatriz Góis Dantas, estudiosa do t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> Sergipe, apontou a diversida<strong>de</strong> da<br />
população nativa <strong>em</strong> Sergipe, antes da conquista pelos portugueses, <strong>em</strong> 1590. Viviam no<br />
território, os Tupinambá, grupo mais numeroso, os Kiriri, os Boimé, os Karapotó, os Aramuru<br />
e Kaxapó. Cada grupo indígena tinha sua maneira própria <strong>de</strong> organização para explorar a<br />
natureza e viver <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong>. Uns viviam da caça, outros da pesca ou da agricultura e coleta,<br />
ou muitas vezes da combinação <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s. 168 Embora após a conquista os indígenas<br />
tenham sido sacrificados através da guerra ou das doenças, muitos <strong>de</strong>les sobreviveram e<br />
passaram a viver <strong>em</strong> al<strong>de</strong>amentos sobre o olhar dos missionários <strong>de</strong> diversas Or<strong>de</strong>ns<br />
religiosas que vieram para o Brasil. 169 Embora as guerras, os al<strong>de</strong>amentos e a escravização<br />
tenham provocado profundas mudanças no modo <strong>de</strong> vida indígena, muitos aspectos da sua<br />
cultura permaneceram ou foram adaptados.<br />
Nesse contexto <strong>de</strong> conflito com o índio, o gado também foi responsável pela<br />
expulsão das comunida<strong>de</strong>s indígenas conforme <strong>de</strong>stacou Alencastro.<br />
Boiadas criadas <strong>em</strong> Sergipe na virada do Quinhentos se multiplicam e, no<br />
meado do século, já formam um apêndice indispensável à economia<br />
açucareira. A ponto <strong>de</strong> constituir um dos tópicos importantes das disputas<br />
luso-holan<strong>de</strong>sas na América portuguesa. Espalhando-se nas margens do São<br />
Francisco, as fazendas traziam as reses até Salvador, até a feira <strong>de</strong> Capoame<br />
(atual Gárcia d‟Ávila, município <strong>de</strong> Camaçari), por três trilhas sucessivas, a<br />
<strong>de</strong> Jer<strong>em</strong>oabo (a mais antiga), a <strong>de</strong> Jacobina e a <strong>de</strong> Juazeiro, na ponta do<br />
vértice boia<strong>de</strong>iro que penetra no Piauí e no Maranhão no final do século<br />
XVII. 170<br />
167<br />
ALENCASTRO, Luiz Felipe <strong>de</strong>. O Trato dos Viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 2000, p.337-339.<br />
168<br />
<strong>DA</strong>NTAS, Beatriz Góis. Os Índios <strong>em</strong> Sergipe. In: Textos para a História <strong>de</strong> Sergipe. Aracaju, 1991, p.19-<br />
25.<br />
169 I<strong>de</strong>m, p. 28-34.<br />
170 ALENCASTRO, op. cit., p.340.<br />
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