TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...
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CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX, Sergipe enfrentava probl<strong>em</strong>as que<br />
preocupavam as autorida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ntre eles – a substituição da mão-<strong>de</strong>-obra escrava pela livre –<br />
que também fazia parte das discussões nacionais. Enquanto algumas províncias brasileiras<br />
encontraram a solução utilizando o trabalho imigrante, outras passaram a usar o próprio<br />
contingente pobre e livre. No entanto, o caso sergipano foi diferente, além <strong>de</strong> não contratar<br />
imigrantes, também enfrentou a relutância da população pobre e livre que não atendia o<br />
<strong>de</strong>sejo dos proprietários, pois, possuíam outros meios <strong>de</strong> subsistência, a ex<strong>em</strong>plos da caça e<br />
da pesca.<br />
Nesse contexto, no qual as autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>monstraram interesse <strong>em</strong> “civilizar”<br />
Sergipe, inclusive na maneira como as pessoas <strong>de</strong>veriam trabalhar foi também o período <strong>de</strong><br />
relevante atuação dos capuchinhos. As missões itinerantes <strong>de</strong> Frei João Evangelista <strong>de</strong> Monte<br />
Marciano, entre 1874 a 1901, revelam que sob o olhar do “barbadinho”, a população adquiria<br />
além dos “bens espirituais” – batizados, confissões, crismas e casamentos – uma série <strong>de</strong><br />
obras comunitárias – tanques, estradas, c<strong>em</strong>itérios, capelas, igrejas e até hospitais, a ex<strong>em</strong>plo<br />
do construído <strong>em</strong> Lagarto – no período <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas obras.<br />
Nesse sentido, a ação capuchinha sensibilizou e contribuiu para as mudanças <strong>de</strong><br />
costumes da população que apren<strong>de</strong>u a respeitar esses missionários, não apenas através da<br />
pedagogia do medo expressa nos sermões, mas também pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> através das<br />
missões e <strong>de</strong> seus ensinamentos passar<strong>em</strong> a obter recursos e obras necessárias para uma vida<br />
mais confortável. Sendo assim, os missionários não representavam apenas a função <strong>de</strong><br />
evangelizar, na prática a população adquiria a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver probl<strong>em</strong>as que não<br />
eram solucionados pelo po<strong>de</strong>r público. Assim a atuação capuchinha não estava voltada apenas<br />
para a expansão do catolicismo doutrinal. Suas ações contribuíram também para as mudanças<br />
sociais num contexto <strong>de</strong> “civilização”. Em nome <strong>de</strong> Cristo, e <strong>em</strong> busca da salvação da alma<br />
daqueles consi<strong>de</strong>rados pelos capuchinhos como pecadores, as muitas pedras que foram<br />
carregadas, <strong>em</strong> sinal <strong>de</strong> penitência, contribuíram para salvar da seca ou ao menos amenizar<br />
<strong>de</strong>sse sofrimento muitos dos que presenciaram essa difícil realida<strong>de</strong>.<br />
Sergipe contava com uma população formada <strong>de</strong> índios, negros, brancos e<br />
mestiços. Com s<strong>em</strong>elhanças e diferenças culturais, sociais, econômicas, políticas e religiosas<br />
também divergiam na maneira <strong>de</strong> pensar e agir <strong>em</strong> relação a diversos aspectos da vida<br />
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