Linguagem, Educação e Artes - Vol.1 - 2010 - Unorp

O discurso estrutura-se a partir de três componentes: tempo, espaço e ação
1 . No discurso fílmico, o espaço é o componente mais evidente e, pode-se dizer, o
mais importante deles, pois é depositário de manifestações temporais e atoriais,
sendo priorizado pelos sistemas de significação planares.
No mundo fenomenológico, as ações se desenvolvem num lugar de
existência prévia, ―real‖. O espaço real é anterior às ações realizadas pelo homem.
No mundo representado, fictício, o espaço é idealizado para receber ações, dentro
de uma ilusão de tridimensionalidade capaz de oferecer ao observador a impressão
de realidade.
Em certas situações, essa impressão de realidade pode obliterar o limite entre
as noções de ―real‖ e ―representado‖ e colocar o espectador diante do efeito de
realidade. O cinema e a publicidade exploram sobejamente esta possibilidade de
desvincular o sujeito da ancoragem no mundo fenomenológico, levando-o para a
esfera imaginária do espaço paradisíaco que, em última análise, aproxima-se do
Éden, como se vê nas imagens de comerciais sobre viagens de férias, por exemplo.
Esse efeito de real opera por sedução, que faz com que o observador se emocione
mediante identificação com personagens, normalmente jovens, belos e sedutores,
que freqüentam aquele lugar idealizado ou, simplesmente, pela projeção de um eu
idealizado que retorna às origens do paraíso perdido.
Um filme é projetado em uma tela plana e bidimensional. Neste espaço plano,
pode ocorrer pela ilusão da terceira dimensão, a representação da profundidade que
concorre para o aparecimento do efeito de realidade. O enunciado fílmico propicia o
surgimento de uma terceira dimensão, denominada profundidade de campo, em que
os objetos e pessoas podem ser vistos com maior nitidez. A associação do recurso
tridimensional com os elementos que conferem melhor delineamento às figuras, tais
como configuração plástica, luzes, sombra, cores, movimento e proporção no
tamanho dos objetos, concorre para gerar o efeito de realidade das imagens
projetadas em tela. Tais elementos, atuam como uma espécie de estímulo que guia
o olhar do espectador e estimula sua mente a interagir com o enunciado fílmico,
completando-o e estabelecendo as necessárias adequações entre imagens
1 Este trabalho toma o termo ação como uma alternativa para substituir a noção de personagem
considerando o fato de que, na publicidade televisiva, de curta duração, a função atorial
sobrepõe-se á noção de persona ainda que correborem para a significação os traços
psicológicos dos personagens ou dos seus papéis sociais.
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