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Linguagem, Educação e Artes - Vol.1 - 2010 - Unorp

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natal, deixa o contexto colonizado sem se preocupar em restabelecer, pelo menos<br />

em parte, as desordens que até então operou na alteridade local.<br />

Esse momento é crítico para o contexto da cultura colonizada, porque ela<br />

ficará temporariamente sem um modelo que a identifique sócio-culturalmente. Antes<br />

da chegada do colonizador, ela tinha um modelo de interação com a natureza<br />

pautado pela liberdade plena, e de liderança, pautado pelo primitivo, pelo mágico.<br />

Esse sistema é rudimentar, porém eficiente dentro daquele contexto social, é<br />

fundamentado na ausência de cercas e fronteiras geográficas e na figura central do<br />

cacique e do pajé. Essa comunidade não reconhece na alteridade uma ameaça,<br />

mas uma complementaridade de sua própria existência.<br />

Com a chegada do europeu, os aborígenes foram lançados subitamente para<br />

dentro de um modelo que trazia uma conformação geopolítica e religiosa<br />

hierarquizada que eles não compreendiam, mas que, mesmo assim, foram<br />

obrigados ou educados para aceitar. Eles não viam no Outro uma ameaça, enquanto<br />

que o Outro via neles uma fonte de renda e de satisfação.<br />

Depois, com o final do ciclo exploratório e a subseqüente retirada do<br />

colonizador, o que se viu foi um vácuo, um hiato temporal instransponível num<br />

espaço curto de tempo. Esse vazio se nos apresenta pela falta de um modelo sócio-<br />

político e cultural que pudesse ser adotado pela civilização da ex-colônia,<br />

substituindo a antiga estrutura de organização social que se interpôs entre a<br />

estrutura tribal original e o oco pós-colonial. Ficou no território colonizado um cavo<br />

de poder e de religião, que a cultura, até então entorpecida pela ação colonial não<br />

consegue restabelecer rapidamente. O resultado aparente desse processo é o de<br />

que o povo colonizado nem se reconhece herdeiro de seu próprio sistema cultural<br />

ancestral (degradado no tempo pela duração da ação exploratória colonial), e nem<br />

reúne condições suficientes para continuar exercendo o controle social dentro dos<br />

moldes do colonizador.<br />

Essa é uma face da natureza da transformação do contexto pós-colonial em<br />

termos do ―incompreensível‖ ao qual alude Homi Bhabha. O ―incompreensível‖ é<br />

entendido como sendo os fatos que se passam quando do final da intromissão do<br />

colonizador no contexto da cultura de chegada, e que depois abandona. A categoria<br />

do incompreensível difere da categoria da miscigenação. Enquanto que a<br />

miscigenação é um fato, é uma constatação, é uma definição, ou pelo menos aponta<br />

numa direção cultural, política e genética, é a percepção e aceitação de um espaço<br />

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