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O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural

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Ter mão (= conter): “tende mão,<br />

meu caro, e não vos deixeis arrebatar<br />

assim pelo orgulho da vossa indispu-<br />

tável superioridade.” (I, 152);<br />

Conquanto, em geral, João Lis-<br />

boa não apreciasse arcaísmos léxico-<br />

-semânticos, expressões populares e<br />

formas sincréticas de qualquer tipo,<br />

veja-se este raro arcaísmo: efeituar (=<br />

efetuar) (I, 184); bem como o prefixo<br />

mal com valor intensivo (como no céle-<br />

bre soneto A Carolina, de Machado de<br />

Assis): “por sugestões do tio, mandou,<br />

o sobrinho, dar uns tiros em Antônio<br />

Brito, que saiu malferido e ficou depois<br />

aleijado de um braço (P.P.A.V., 247).<br />

Agora, um exemplo escoteiro e ori-<br />

ginal da adjetivação de substantivo, na<br />

expressão é bem (= é bom que seja as-<br />

sim): “depois do furor e da demência,<br />

bem era que a imbecilidade tivesse tam-<br />

bém a sua vez.” (I, 92).<br />

Outrossim, os pronomes indefini-<br />

dos tanto e quanto equivaliam a tão<br />

grande e quão grande, como neste pas-<br />

so: “tanta era a precipitação vertigino-<br />

sa dos sucessos.” (I, 99). Note-se aqui<br />

Índice<br />

o termo sucessos, como sinônimo de<br />

simples acontecimento.<br />

Além disso, os pronomes demons-<br />

trativos este/aquele, e os indefinidos<br />

um/outro, classicamente são substi-<br />

tuídos por qual, como no português<br />

quinhentista. Assim o fez aqui Lisboa:<br />

“qual diz que todo o seu empenho é<br />

manter a ordem, [...] qual se erige em<br />

campeão exclusivo de uma cousa vaga e<br />

indeterminada a que se chama a digni-<br />

dade da província; qual enfim declara<br />

que na província não houve, em tempo<br />

algum, partidos políticos.” (I, 107).<br />

Já a expressão a qual podia usar-<br />

-se por cada qual, como o fez aqui: “as<br />

leis ainda multiplicavam as dificulda-<br />

des, exigindo deles uma infinidade de<br />

condições, a qual delas mais rigorosa.”<br />

(I, 27).<br />

Labora em equívoco quem pensa<br />

que a expressão haver aí é uma simples<br />

tradução do francês y avoir. Os gran-<br />

des cultores do nosso idioma usaram-<br />

-na, como Lisboa o fez cá: “então o al-<br />

goz [...] declarou que já tinha feito o seu<br />

dever e certamente não havia aí outra<br />

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