O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural
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cunhadas, 22 que contando perto de um quarto com um vigésimo de século 23 de<br />
existência tempestuosa, e infamada[s] com numerosos naufrágios de candidaturas<br />
matrimoniais, se aferraram, como a sua última tábua de salvação, às esperanças que<br />
a exposição teatral lhes proporcionava de poderem enfim tomar parte no banquete<br />
da vida! (Depois de terminar esta longa, pomposa e laboriosa oração, descansei<br />
alguns momentos satisfeito).<br />
Não era possível sofrer tanto, e posto que com desprezo das regras de<br />
cronologia, em obséquio à conexão da matéria, direi já aqui que no dia aprazado<br />
invadi os corredores com todo meu povo, deixando boquiaberto o Sr. Januário 24 e a<br />
todos os mais satélites da tirania. Creio mesmo que foi o meu populoso camarote o<br />
que deu na vista d’O Observador, sendo fácil de explicar o engano com que contou<br />
14 em vez de 13 pessoas que realmente eram, e atribuiu a patronato o que era<br />
simples resultado do meu arrojo, e da desesperação das moças.<br />
Se eu ainda aqui disser que para as sete pessoas permitidas, só se<br />
dispuseram cinco cadeiras, ficará claro como água que os triúnviros juntaram<br />
à opressão o escárnio, ou antes a mangação, 25 como muito bem lhe chamou O<br />
Observador.<br />
Homens há que, não obstante os mais claros sintomas de perigo, tratam<br />
tudo de res-to, e em tom de zombaria; é justamente o que têm feito alguns dos<br />
nossos mal-avisados concidadãos, apesar de se estar a meter pelos olhos de todos a<br />
evidência de quanto até aqui tenho referido; mas fico que ainda os mais cegos cairão<br />
em si, se à infernal unidade de vistas que tem presidido à legislação e administração<br />
teatral juntarem os seguintes fatos e coincidências, pesando-os com a madureza<br />
22 Mulher, oito filhos...: seria essa a família do “pobre Tímon”, não a do próprio Autor. De seu matrimônio com D. Violante Rosa<br />
da Cunha Lisboa, João Lisboa não teve filhos. Em 1846, o casal adotou uma filha de seu amigo Olegário José da Cunha, a qual<br />
veio a falecer após um ano. O amigo deu-lhe uma segunda filha, batizada com o mesmo nome da primeira (Maria).<br />
23 Um quarto com um vigésimo de século: modo sutil de dizer a idade de uma mulher de trinta anos.<br />
24 Antigo porteiro, ou guarda do nosso Teatro. [Nota do Autor].<br />
25 Mangação: zombaria.<br />
Índice<br />
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