O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural

anúncio:
– Tímon passa a chave do seu camarote, e promete acomodar-se em
preço e prazo. Procurar no seu escritório, Rua do Sol, como quem vai para a Sé,
à mão direita, sobradinho místico ao ourives José Feliciano.
Porém as notícias do vapor mudaram a situação num abrir e fechar de
olhos: os triúnviros assombrados ficaram com a cabeça de tal modo perdida, que
não só deram de mão ao premeditado suplício de repetição, como mudaram o
dia, anunciando que o espetáculo designado para domingo 21 (designado onde, se
ninguém sabia de tal?) ficava transferido para quinta-feira.
Cheio de júbilo rasguei o meu anúncio, e já agora vivo mais satisfeito,
porque, se perdi as esperanças de extirpar completamente a tirania, as conservo, ao
menos, de que os triúnviros abrandem consideravelmente do seu primitivo rigor.
Talvez cheguemos todos, opressores e oprimidos, a um razoável meio-termo, em que
os diversos elementos se equilibrem de um modo verdadeiramente constitucional-
representativo. Nada de conspiração e pateadas (contra a Diretoria, se entende),
nada de artigos e folhetins acerbos; mas, em desconto, seja permitido ao menos aos
espectadores de camarotes o levarem os seus chapéus de sol, e uma ama para as
crianças, aqueles que as tiverem. Para longe esses abomináveis suplícios em cinco
atos, que operam pelo torpor, como a cegude 57 ateniense, e o que se diminuir nos
atos homicidas pode muito bem acrescentar-se no número de pessoas que cada
assinante queira ou possa levar em sua companhia. Para que caluniar o gênero
humano, suspeitando abusos em tamanha escala? Pois, para pôr em estado de
sítio a meia dúzia de parasitas que na roda do ano não fundiriam quase nada, vale
a pena de incomodar e vexar o numeroso e brioso povo de assinantes? Lembro
até à Comissão Diretora um meio que, com ter sido já muitas vezes usado pelos
maiores potentados, não deixa por isso de ser original, engenhoso e eficaz para
57 Cegude: cicuta
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