O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural

-cristãos, tomando a cada um ou a todos em conjunto, nenhum sistema
filosófico formulou tão penetrante entendimento do valor da vida quan-
to o Cristianismo o traz embutido em sua doutrina: a vida vem de Deus
e a ele remete. Ninguém é autor da própria vida, ninguém tem direito
de dar cabo da própria vida, nem da vida de outrem, a título nenhum.
(Os pensadores cris-tãos que fizeram a apologia da pena de morte, da
guerra, ou da tortura, não praticaram menos que uma grave contraven-
ção em face ao entendimento que Jesus revelava a respeito davida). Por
causa da vida, a morte ganha uma dimensão iluminadora: é triste e ine-
xorável, mas não é terminal. Guardemos a frase de São Paulo: “A morte
é o salário do pecado” – expressão luminosa para quem entende a ter-
minologia religiosa. A bem dizer, não há morte: há uma passagem, uma
trans-formação do ser humano;
b) Valor primacial da pessoa humana - Nenhuma filosofia ociden-
tal, até Jesus, trouxe jamais, embutida em sua concepção, tão elevado
valor da pessoa humana, em sua unicidade ontológica. Nada, no mundo
criado, a supera em grandeza e dignidade. Cada ser humano, não impor-
tando a sua condição – de saúde, de beleza, de raça, de nacionalidade,
de status, de riqueza, de poder, de inteligência, ou o que seja –, cada
ser humano, individuadamente, deve ser respeitado e tratado como fim
e nunca como meio. Tratando-se de pessoa, o homem é uma unidade
substancial de corpo e alma, ambos envolvidos em igual dignidade: o
corpo é o “templo do Espírito Santo”, e não o cárcere da alma, como en-
tendia Platão. A alma é incorruptível e imortal;
c) Transcendência do ser humano - O homem é um ser insaciável,
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